No fundo - e na verdade- não há quem não concorde: a felicidade é o reflexo da simplicidade. Explico claramente: a gente complica que nem sente. E é? É. A vida é um poço de poesia e em uma monumental quantidade de vezes deixamos escapá-la. Veja que tolice mais desmesurada: deixar ir embora a poesia!
  O que acontece mesmo é que, acima de a deixamos ir,  não a acolhemos, resolvemos julgar o que é poético ou não, resumindo: Céu ensolarado? Deixa passar. Céu estrelado? Nada demais. Flor desabrochando? Deixa passar. Criança chorando? Merece calar. O Sol? Melhor a Lua. A Lua? Cansados demais para observar. As pessoas? Nada a acrescentar. A solidão ? Bonita. Meia dúzia de palavrinhas meia-boca, organizadas em versinhos? Ah, sim, poesia de primeira qualidade.

  

   Tenho, hoje, a alegria de divulgar um trabalho que tive o prazer de ter contato. Sendo eu alguém que aplaude a produção cultural, sobretudo a do nosso país, me delicio em dizer: temos escritores brasileiros, de qualidade, no século XXI. 
   Como prova de tudo isso dito apresento a história de Antony: uma criança ingênua de oito anos de idade, de vida difícil e sonhos pertinentes. Antony nunca teve os melhores brinquedos ou as melhores roupas, o lar mais aconchegante e passou longe de ter os pais mais amorosos e presentes,  mas sempre manteve-se agradecido por ter o pouco que tinha, afinal, ele sempre teve consciência de que muitas crianças viviam pelas ruas.

"E aí, passa teu whatsapp pra nóis trocá uma idéia?"
   Não sei se foi a menção à palavra conhecida ou aquele dialeto (que, por sinal, esfaqueava a gramática) que chamou a minha atenção, mas me coloquei em posição de bisbilhotar a cena. Observei,com aflição,a mocinha digitar algo no smatphone do rapaz possuidor do dialeto peculiar. Ela não parecia ofendida com o fato de o digníssimo não ter se apresentado, se ficou ofendida disfarçou bem. Quase não acreditei quando ele saiu cuspindo um "falou". Pensei: NÃO É POSSÍVEL! Mas era, e foi. Esse foi o início, meio e fim da conversa. 
   O escândalo com a cena só não foi maior do que o de perceber que a situação era (é) extremamente comum. Me dispus, então, a investigar em minha memória onde raios tudo isso havia começado. Vasculhei a caixinha de memórias e: não soube dizer.
    Saber dizer eu não soube,mas me lembrei de uma época em que aquele que tinha o numero de telefone da casa (sim, da casa, celular não era mais importante que água) da gente podia se considerar amicíssimo. Quer dizer, era preciso muita intimidade para pedir o número de telefone de alguém. Contudo, essas lembranças são muito remotas.
    Depois de algum tempo, os mais ousados diziam "você tem E-mail?" - que se transformou em MSN, orkut, facebook e, finalmente, whatsapp. Os e-mails atualmente são vistos apenas como algo ultra sério: está bancando o substituto da carta.
     O engraçado (ou triste) é perceber o quanto essa revolução tecnológica influencia nas relações não-virtuais. Os aniversários, por exemplo já maior importância. Até porque, as pessoas tinham que, minimamente, lembrar os aniversários sem uma rede social virtual que fizesse isso por elas (e, nesse quesito, o orkut era muito mais eficiente que o facebook). E o melhor: tinham que ir até a sua casa ou ligar, se quisessem desejar-lhe bonanças. E por mais que nas ligações de aniversário a gente sempre fique tipo "ahã, obrigada, ahã, hehe", as ligações são muito mais pessoais do que um "parabéns" em nossa timeline. 
   Inclusive, esse momento histórico da ligações-ahã foi simultâneo ao momento histórico das fotos reveladas. Pasmem: as pessoas fotogravam para guardar as fotos ao invés de postá-las online. E o mais maluco: não viam o resultado final da fotografia no ato de tirá-las. Esse tempo existiu, tia?
    Certa vez ouvi o vento me dizer que "a internet aproxima quem está longe e afasta quem está perto". É clichê mas me parece apropriado até certo ponto. 
     O fato é que, somando os prós e contras na calculadora digital da vida, eu ainda ficaria com os convites de aniversário feitos de papel que diziam "seria uma honra tê-lo em minha festinha". Não digo que largaria a tecnologia, sem radicalizar, mas optaria por não conhecê-la, se fosse possível. Ou não. Ouvi dizer também que as memórias são um exagero só. 
      

     
     Nunca fui perita em estações do ano, clima e nem nada desse tipo. Em termos convencionais, as estações do ano são primavera, verão, outono e inverno; cada uma delas com características particulares. Há quem goste mais do Sol, há quem goste mais do frio e há os insatisfeitos. E, pelo que sei, desde que o mundo é mundo não há muito o que possamos fazer para modificar o clima: não existe um pó mágico que a gente possa jogar no ar para fazer o Sol aparecer naquele dia que a gente quer ir nadar, ou uma sementinha que faça chover quando a gente quer dormir e o calor não deixa. Mas podemos lidar com isso. 
    A minha personalidade perceptiva,por exemplo, faz meu corpo físico sofrer no frio: não gosto de frio. Mas sei que sem os dias frios eu não apreciaria tanto o Sol. Ou seja: por mais que, em minha opinião, deveria existir uma lei que decretasse feriado (remunerado) em todos os dias frios, eu escolhi acreditar que estes são necessários e tiro proveito deles, assim, o incômodo fica bem pequenininho.

       
        Chega a ser engraçado perceber o quão contraditórios nós somos.Todo mundo quer mudança, melhora, prosperidade e felicidade mas a gente é de uma moleza descabida para dar a cara a tapa a ponto de uma atitude nova adotar, não é? 
           Outro dia mesmo, a pessoa que vos fala resolveu repaginar e entendeu logo de cara a dificuldade: por onde raios começar? É até surreal mas, algumas vezes, a gente não sabe nem onde a gente está: se é no começo, no meio ou no fim de uma página desse livro surrado que é a nossa vida. Como é que pode? Quer dizer,como alguém pode estar perdido, sendo sufocado e esquecido por entre as páginas do livro da própria vida? Aí é que está: ninguém sabe e, talvez, nem nos caiba saber. E é desse 'não saber' que a sementinha da mudança é plantada: pra quê se apegar tanto aos detalhes? Detalhes que, às vezes, enchem a gente de uma carga tão desnecessária. É isso: a gente tem um apego com uns detalhes que, cá entre nós, são um fardo.