Foto por: Ane Karoline

    "Bom dia, tudo bem?" foi o que disse àquela senhora que, aliás, me parecia bem mais velha do que eu me lembrava. Fiquei pensando naquela pergunta e não soube o que responder. Quer dizer, o "tudo" inclui o sono atrasado, a fome e a miséria mundial, o cansaço, o medo, a dor de cotovelo, o amor, a vontade de tomar sorvete de flocos e aquela dorzinha insistente no peito, não inclui? E o "bem" é estar no lugar certo, ou, no lugar que eu quero, não é? Porque, se é, não está! Está tudinho de cabeça para baixo. E se é assim, não está bem. Mas é que, no fim das contas, soa como se  ninguém quisesse saber dos detalhes e a gente, tão pouco, dá importância a eles. Ainda pensei em mencionar a morte do vovô e aquisição de um cachorrinho novo, para aquela senhora  da qual não me lembrava ter viso os cabelos esbranquiçarem, mas imaginei que estivesse ocupada com sua própria vida e que aquela fosse apenas uma pergunta educada. Tentei, então,  me lembrar de quando a conheci e não consegui, já havia um bom tempo que a via com frequência e, aí, percebi que não a conhecia realmente para uma resposta sincera e respondi, novamente, com o tão comum "estou bem, obrigada".
    Eu sei que nossas vidas têm corrido léguas na nossa frente e que temos que correr para acompanhá-las, mas, com sinceridade, quantas relações verdadeiras você tem? Sério, conta aí nos dedinhos. Mas tem que ser de verdade mesmo, não vale aquela vizinha que você vê todos os dias no ônibus mas não cumprimenta por não saber se ela vai responder ou, simplesmente, por negligência, não vale aquela prima que você só fala nos enterros, não vale aquela amiga que você critica para se sentir bem, não vale o seu irmão que você só fala para pedir o controle da tv e, sobretudo, não valem os seus amigos no facebook e os seus seguidores no instagram que, afinal, não podem te seguir: mal sabem onde você mora. E aí, quantas relações verdadeiras?