"E dentro e quando estava atento,
 Senti meus pedaços voarem com o vento..."

     Noites quentes de um verão sem fim, e me pego avaliando a caminhada até aqui. Pensei em compartilhar alguns dos meus pensamentos vãos, enquanto eles tomam forma através das letras e palavras. Estive pensando em meu caminho até onde estou, e, avaliando os rumos que segui. Engraçado pensar que não sou mais quem eu era na segunda-feira passada, pois, a mudança é constante.
     Sempre fui inconstante. Personalidade em criação, que se renova com frequência. Em minha vida, sempre foi fácil conhecer as pessoas. Minha personalidade extrovertida me levou a conhecer diferentes tipos delas. Hoje posso dizer que vi bastante das pessoas, apesar de ainda haver muito a se conhecer. E como o processo de criação de uma amizade é interessante!
     Começa com uma conversa leve, onde, interesses em comum surgem, segue para encontros casuais, discussões mais elaboradas, sorrisos e favores trocados, construção de lembranças e confiança, até que algo mais sólido esteja formado. É claro, algumas amizades vão além disso, outras não passam disso. Depende de muito, ou pouco, mas só tempo é capaz de saber.
     Olhando para trás eu percebo que algo sempre se repetiu em minha vida. Promessas vazias. Palavras proferidas, e que , nem sempre, eram verdadeiras. Nos últimos anos expandi meu círculo de amizades como nunca antes em minha vida. Isso me trouxe um conhecimento amplo sobre as pessoas. Quem me conhece sabe, sou muito observador, e, pareço ser capaz de compreender bem as pessoas que me rodeiam. Isso faz com que eu me adiante às necessidades alheias, e me torna aquele amigo atencioso, que sempre sabe o que fazer, ou dizer, e que se esforça em estar presente, em ajudar, da melhor maneira possível.
     Infelizmente, às vezes, as pessoas estão por perto não por que gostam de mim, mas pelos benefícios que posso trazer a elas. Tropecei muitas vezes antes de perceber essas pessoas ao meu redor. As que me prometiam mundos, com palavras vãs, que jamais chegaram a se cumprir. Se você não tem a intenção de fazer, não prometa. É vergonhoso continuar fugindo de suas promessas, ao invés de assumir que não será capaz de cumpri-las. Prefiro que tenha a coragem de olhar em meus olhos e dizer que mentiu, do que continuar a fugir, se esgueirar e mudar de assunto, sempre que isso vem a tona.
     A parte mais interessante é que elas sempre voltam, quando precisam de algo, fingindo que suas promessas foram esquecidas. Ressurgem após longos silêncios, te chamando de amigo, procurando algo de bom para si mesmas. O seu silêncio é a maior prova de que você não é alguém que vale a pena estar ao meu lado. Não me dê seu silêncio de presente, ou terá o meu de volta.
     Sempre preferi as pessoas honestas, as que tem a coragem de assumir seus erros, e lidar com as consequências. Não gosto quando vem, falando de assuntos fúteis, perguntando como estou, fazendo rodeios antes de finalmente dizer o que quer, fazendo carinhas para me convencer a te ajudar. Eu enxergo por trás do seu teatro, sei exatamente o que está fazendo, você não me engana. A essa altura do campeonato, já devia ter percebido que eu te leio tão fácil quanto leio o alfabeto, e você não é capaz de me enganar.
     Hoje eu afirmo que estou me afastando de pessoas assim. Elas receberão apenas meu silêncio, de agora em diante. Percebi que são fardos que não quero carregar. São esforços que não desejo realizar. Eu já tenho quem me importa de verdade, e não tenho dúvidas sobre estes. Não preciso de quem me vê como benefício, não sou bolsa família. O amigo que eu sou, a pessoa que eu sou, está reservada para quem me merece, e apenas eles. Se quiser ter a mim novamente, prove seu valor. Do contrário, você pode partir, que eu não me importo. Ao meu lado, apenas quem me quer de verdade. Quem me procura sem segundas intenções, quem se importa em saber se estou bem, ou como foi meu dia. Se você não se encaixa nesse perfil, a porta da rua é a serventia da casa.
     Um bom dia para limpar o coração, dar uma faxina e retirar o que não presta. Retiro a pressão do peito, deixando sair o que não me tem mais uso. Desabafo os cômodos, abro as janelas, limpo as teias de aranha e permito que o vento leve a poeira embora. Está na hora de recomeçar a viver a vida. Olho apenas para frente, pois lá está meu destino. O que deixo para trás, não me importa mais. Amanhã, serei outro, e você não mais me conhecerá. Me procure, se quiser conhecer essa pessoa nova, mas se me procurar, tenha a certeza de que dessa vez é pra ficar.

Adolfo Rodrigues


Importo-me menos com seu ruído
De desconsolo já estou servido
A sua voz já não chega a mim
Esse tempo já teve fim

Não gasto mais lágrimas me corroendo
Meu curto tempo está correndo
Meus anjos brilham com a luz forte
Afastam de mim suas palavras de morte

Eles tem sorrisos de estrelas e claridade
São meus escudos contra sua maldade
Suas armas, cuspidas entredentes
São ineficazes contra seus amores ardentes

Um anjo que é um irmão
Melhor amigo, um verdadeiro bobão
Alegra os dias apenas por existir
Me carrega no caminho oposto do "desistir"

Ele sozinho é um mundo inteiro de sentimento
Mas só eu o sei ler por dentro
Nos escolhemos, foi opção
Por essa vida e sua continuação

Uma pequena, que colore a vida
Me chama de tio e é divertida
De alma pura e olhar sincero
Uma parte de mim a considero

Um anjo de longos cabelos escuros
Com cheiro de melancia e sonhos futuros
Me lê inteiro e traz olhar gentil
Do lar celeste sei que surgiu

Ela existe no espaço tempo
Traz para o mundo seu contentamento
Sua existência chama a atenção
E traz aos homens a gratidão

Uma dupla dinâmica de meninos lógicos
Que gostam de heróis e mundos tecnológicos
Me ouvem e leem durante as noites ocupadas
Transformam o ambiente em noitadas

Uma mãezona de coração
Que me dá alimento e orientação
Me cuida apenas por que sim
Faz questão de mim

A poderosa policial
Que vigia os arredores contra o mal
De olhar afiado e carinhoso
Traz consigo o coração amoroso

Outros existem, não vou negar
No dia a dia a me auxiliar
Mas quanto aos três anjos principais
Esses não largo jamais

E nesse dia recito ao universo
As verdades de um ser reverso
De cerne estranho e complexo
Vivendo em estado desconexo

Não me importo se mal me queiras
Não sou boneco para suas brincadeiras
Deixa-me com quem bem me quer ver
E vai seguir com teu viver


Adolfo Rodrigues


Presença forte
Adocicada
Me cura os cortes
Inebriada

Até sob tormenta
Me faz sorrir
Me acalenta
E me faz florir

Aquece meu coração
Acalma a minha alma
Desconheço a razão
De ser a minha calma

Fala, escreve, lê e relê
Me observa
Sem nunca esquecer:
Quem ama conserva

Me escreve
Me desenha
Me descreve
É minha lenha

Sincronia, sintonia
Encontrei
Melhor companhia
Honrarei

Vou registrar
Para resumir
Amor é ficar
Quando se pode ir.

Ane Karoline



"Te quero onde eu possa te querer"


Te aceito
Me rejeito
Sinto essa dor no peito
Imperfeito

Não sei direito
Qual meu defeito
Então me estreito
E me ajeito

Quero seu jeito
Quando eu me deito
Olhar refeito
Coração rarefeito

Então me aceito
Não te rejeito
Sinto o amor no peito
Perfeito

Qual o seu direito
De ler meu defeito
Com esse olhar estreito
Enquanto eu te ajeito

Esse é o meu jeito
Quando eu te deito
Te olho refeito
Em seu coração rarefeito

Percebi que a tristeza fez morada ao meu lado

Eu me recuso e saio
Fujo dela, de soslaio
Mas a tristeza fez morada ao meu lado.

Pedi, então, que ela falasse baixo e me apressei em explicar
Que, com ela, não pretendia nenhum laço, mas nunca fui de expulsar
E, nesse impasse inadequado
A tristeza fez morada ao meu lado.

Perdurou a complicação, me mantendo atordoada
Em imensurável aflição: ela era o que me restara- onde me apoiara, me afundara, me encontrara.
Construiu-se aí um laço: 
A tristeza fez morada ao meu lado.

Perdemos a relação por uma tal de alegria
Que, logo de antemão, chegou sem dizer que viria
E nesse impulsivo embaraço
A tristeza foi colocada de lado.

Por mim, tentei apresentá-las, tentei manter a calma no meu chão de linóleo
Tentei equilibrá-las, mas eram como água e óleo
Dei o assunto como acabado, 
Alguém tinha que ser deixada de lado.


Ane Karoline










Você me tira o sossego,
Faz-me viajar imóvel,
Sentir esse apego,
Que desassossego.

Pergunto-me a razão,
A causa, a circunstância.
Como pode essa sensação
Existir em meu coração?

Teus lábios desenhados se envergam,
Sorriem com os olhos e se iluminam.
Seus cheiros exalam e se disseminam,
Suas palavras me fascinam.

Essa certeza incerta,
Esse medo corajoso,
De quem hoje fez uma descoberta,
Mas se mantém receoso.

A chance parece escorrer entre os dedos.
Vou comprar um aquário para a guardar.
Colocarei-a junto aos meus medos,
E aos nossos compartilhados segredos.

Deixa-me passear pela tua pele macia,
Navegar meus lábios pela sua derme.
Sentir o seu gosto de luz do dia,
As coisas que esconde no teu cerne.

Mantenho a distância segura,
Enquanto espero o coração que se cura.
Preencho com esperança minha mente escura,
Observando sua candura.

Se você precisa de certezas,
Ofereço-as como um banquete disposto em mesas.
Se você quer tempo,
Tenho certeza que esperar-te aguento.

Se precisa de segurança,
Tornar-me-ei guardião.
Guardarei a entrada e o portão,
Proteger-te-ei da solidão.

À mim dê sua mão,
E lhe guiarei em meio à escuridão.
Viveremos todas as emoções,
Enquanto conectamos nossos corações.


Adolfo Rodrigues