Sou fã de surpresas, essas que tiram a gente do eixo, nos deixam, felizmente, atordoados por alguns instantes. Gosto do que gera movimento, gera construção, gera progressão. É assim que me ganham. Uma pessoa, um livro, uma música, um evento teatral, um filme: causando algo, por mais interno que seja, em mim. Me movendo. E como eu gosto de movimento! Sendo assim, fiz uma breve lista (porque eu adoro listas) dos livros que mais me desestabilizaram durante o ano de 2015. É claro que os efeitos e as conclusões são, minimamente, diferentes em cada um de nós mas, além de me tirar do eixo, me dar uma sacudida e uns bons tapas, esses livros me fizeram crescer. E, cá entre nós, compartilhar coisas boas deveria ser regra, né? 
Nem todos os livros foram lançados em 2015, mas foi quando tive esse encontro maravilhoso com eles. Não farei resenha dos livros para guardar tudinho para vocês. 

1- Por Elise - Grace Passô
 Depois de assistir a uma adaptação do texto, em um espetáculo teatral, passei mais de um ano procurando esse livro em todas as livrarias em que fui, nem online conseguia encontrá-lo. Com a minha síndrome de Pollyana, acredito que o desencontro tenha sido para que o encontro fosse na hora certa. Ganhei o livro e o li quando mais precisava. 

2- A Paixão segundo G.H. - Clarice Lispector
   Tudo bem. Quem me conhece, ou já acompanha o blog, vai dizer que eu amo Clarice e sou suspeita para falar. Mas esse livro me arrebatou! E eu gostaria muito que o mundo inteirinho o lesse. É um dos livros mais famosos da Clarice e agora é meu queridinho também. 

3- Eu sou Deus -  Pedro Chagas Freitas
    Esse livro foi uma big surpresa. Não conhecia o autor e nunca tinha ouvido falar do livro. Em parceria com a Chiado Editora, recebi esse livro para resenhar e o que eu posso dizer que "Ser feliz é um irrevogável direito!" A resenha do livro está aqui.

4- A graça da coisa - Martha Medeiros
   Apaixonada estou por essa escritora, pela escrita dela. O livro é composto por crônicas sobre trivialidades do cotidiano e é sensacional. Dentre tantas outras coisas aprendi, com esse livro, que "a vida não oferece opção: ou você segue, ou você segue."

5- Feliz por nada - Martha Medeiros
    Escrito no mesmo estilo, e graciosidade, que "A graça da coisa". É um livro repleto de humor e amor. 

6-  Nanquim - Organização Alfer Medeiros
   Sim, publiquei um conto nesse livro. E quão grande foi minha surpresa quando li os outros contos e crônicas do livro. Os contos são todos muito bem amarrados e uma delícia de ler! (Se quiser saber mais, vejo o vídeo em nossa fanpage). 

7- Pó de Lua - Clarice Freire
   O livro mais doce que já li na vida! Confiram, confiram, confiram!

8-   Extraordinário - R.J. Palacio
   Um livro sobre humanidade e gentileza, me ensinou que nada entendo de ser gentil. 

9- Confissões- Paula Pimenta
   Presente de aniversário que me trouxe amor derretido em poemas. Lindíssimo, levíssimo. 

10- Quem é você, Alasca?  - John Green
  A escrita de Green é encantadora. Li todas as suas estórias publicadas e me encantei com todas. Dessa vez não foi diferente, afinal, quem somos?

Agradeço a todos esses autores e escritores que me ajudaram a escrever meu ano de 2015. E aconselho vocês a lê-los. Vamos, lá? 









Eu sei que se conselho fosse bom, a gente deveria vender. Eu sei que não posso e nem quero me meter. Mas se eu pudesse te dar um conselho, te aconselharia a não esperar a vida acontecer: ir lá e fazer. Caminhar, correr, cair e levantar sem medo de perder. A gente perde mesmo é pelo medo de tentar. Esse, na verdade, é o conselho número 2: arrisque. Vivi 18 anos sem comer mostarda porque achei que fosse ruim. Veja só que medida mais sem comprimento: achei. Achei errado, como várias outras vezes. Provei, gostei e a única coisa que perdi foram 18 anos daquele gostinho marcante de mostarda em minha vida. 
Ah, esse é o conselho número 3: esse espaço de tempo consciente que apelidamos carinhosamente de vida é exatamente isso, um espaço de tempo que passa - e passa que é uma beleza. Aliás, pode ser uma beleza. E pode não ser. Mas a gente pode tentar fazer ser uma beleza, ao nosso jeitinho, especialmente nesse dia que fica entre o ontem e o amanhã! Porque, de repente, ele já não existe mais. Tem isso também: tudo passa, ainda bem! E esse é o conselho número 4: não se aborreça tanto assim, tudo vai chegar ao fim. Tudo pode mudar. As coisas são criadas e recriadas a cada instante. Essa sua tragédia de agora, possivelmente, não será nada no próximo ano. Quem te chateia hoje, amanhã vai estar seguindo outros rumos.
Eis o conselho número 5: as pessoas são coautores de nossa história. Não desperdice isso e nem, tão pouco, faça delas os únicos autores. Somo todos colaboradores e ninguém está nenhum degrauzinho acima. Falando em estar acima, não queira. Conselho número 6: faça o melhor que puder, seja o melhor que puder sem precisar (ou desejar) estar acima de ninguém. Mantenha a ideia de que somos colaboradores.
Plante, cultive e espalhe amor é a melhor forma de convivência e sobrevivência existente. Diga bom dia e seja o último a sair de um abraço. Somos colecionadores de miudezas, na verdade, somos construídos por elas. Falo das coisas que não têm tamanho, aquelas que podem parecer pequenas mas são tão apreciáveis que tornam-se imensuráveis. Coisinhas. Coisinhas que nos edificam sem que percebamos. Conselhos 7, 8 e 9. E esperando que o décimo seja realmente um acréscimo digo: acredite. Qual é o pior que pode acontecer? Não acreditar é um ato de desesperança e covardia tão grande que apaga milhares de chances todos os dias. Acreditar é ter um caminho para trilhar. 




A vida é muito frágil, fragilíssima, quase efêmera. A vida é um piscar, é um sorriso, um olhar. A vida é uma borboletinha amarela que voa, voa, voa e, de repente, não voa mais. E a gente quase não percebe. A gente não percebe que um montão daquelas borboletinhas amarelas param de voar todos os dias. É que parece que existem outras borboletinhas amarelas, né? Mas eis aqui a verdade: não existem. Parou de voar e acabou. Acabou para nós aqui, do lado de cá "carne e osso" do universo. Acabou, e acaba todos os dias, para nós que ansiamos tanto guardar a vida em potinhos, em fotos, em caixas, em carros e em fórmulas deixando-a, assim, escapar.
E quando, felizmente, não a deixamos escapar, quando decidimos cuidar, queremos guardar, proteger, salvar, acolher, cobrir, escoltar, socorrer, defender, tutorar, amparar, apadroar... Mas borboleta dentro de caixa não dá para ficar. Não dá para deixar a vida lá, guardadinha, a gente olha, dá um beijinho de manhã e pronto, fica olhando do canto: tem que soltar, deixar ser, let it be
A gente admira a vida - que é digna de admiração mesmo- mas é para ser vivida, não olhada de longe. O agora é tudo que temos. Não se sabe de nada, hoje tem Sol e amanhã quem sabe? Quem vai afirmar alguma coisa? Eu não ouso. Ontem mesmo afirmei que a borboletinha amarela que visitava minha janela iria voltar no dia seguinte e nem a olhei. Hoje não sei dela. Achei que a vida ia esperar por mim, não esperou.
É fato que nenhuma borboleta amarela vai voar para sempre e eu mesma não estarei aqui para sempre para vê-las voar. Vou sentir falta delas e alguns outros vão sentir minha falta. Então, o voto de hoje é para que possamos viver as borboletas enquanto estão aqui, voando ao nosso redor. Sem prender a vida e sem observá-la de longe. Honrar a presença enquanto a borboleta quiser e puder voar perto de nós, depois podemos agradecer por termos tido a chance de conhecer algo tão belo, de sentir a vida e de vivê-la enquanto foi possível, afinal, nenhuma borboleta voa para sempre. 
In Memorian de Wellica Costa que tanto trouxe alegria, vida, sorrisos e beleza a esse lado de cá do Universo. 



Falar de amor é como falar de lixo. Vamos lá. Estamos esgotados de tanto ler, ouvir, assistir e repetir: lugar de lixo é no lixo. Não devemos jogar lixo no chão, nas ruas, nas calçadas, nos bueiros: lixo no lixo. É quase um mantra repetido mas as ruas continuam abarrotadas de lixo. Não, o amor não é lixo. Mas é tão dito, entoado, cantado, versificado, escrito, descrito, declamado, recitado e receitado que quase soa como se já tivesse sido dito demais - como a história do lixo no lixo. E isso não faz mal nenhum desde que seja acompanhado por ações.
Assim como os panfletos de reciclagem, o amor parece ser sempre uma filosofia que serve de paisagem de fundo para as nossas vidas. A gente vai falando, lendo, vivendo repetindo os mesmos discursos algumas vezes por ano, desejamos bençãos em dias de aniversários e quando chega, finalmente, dia 24 de dezembro é bonito de ver: luzes, abraços, música, presentes, gente presente, felicitações, mensagens de carinho e apoio. Pelo menos uma vez, um dia, uma lâmpada mágica parece acender-se em nossas cabecinhas e mostrar: dá para apaziguar, dá para pacificar, dá para amar. E dá. 
Ao invés de dizer que não adianta nada, que o lixo vai continuar sendo jogado nas ruas, e que apenas um dia de amor universal é hipocrisia eu quero te convidar a dizer mais.



Não precisa ligar. Não precisa mandar uma mensagem e nem pedir para que alguém me diga alguma coisa. Se for para dizer meias palavras, não precisa. Não é ironia, não é falsa moral, nada disso. Não precisa fazer qualquer esforço para criar justificativas - nas quais nem você acredita. Melhor: não precisa porque não vale a pena. Não vale nada. Qualquer coisa dita em vão, não me vale nada - nem a mim e nem a ninguém. 
Me vale mais um "não fui porque não quis" que um " aconteceu isso ou aquilo". Me vale mais um "não gostei disso" verdadeiro que um "tudo bem" chateado. Me vale mais um "eu gosto de você" ardente que um "eu te amo" frouxo. Me vale mais um "adeus" com o coração em chamas que um "eu fico" sem nenhum fervor. Se é sem fervor, é sem valor. É morno.
Não me acostumo com o morno. Imagine só, café morno, presta? Não. Sopa morna, abraço morno, chá morno, presta não. Clima morno, então? É aquela coisa abafada que não se sabe se chove, se molha, se queima ou se mata: enforca. Amizade morna é aquela que enfeita: não briga, não liga, não ajuda e não ajeita. Um morno aqui, um mais ou menos ali, um tanto faz aculá e a pessoa fica morna, com uma vida morna e vivendo de metades mornas.
Metades também não me valem. A inteireza é tão bonita! Dá um trabalhão? Dá sim. A gente tropeça, leva um tombo daqueles para deixar no chão por dias, chora que se acaba. Se acaba por inteiro. Mas quando levanta é por inteiro também. Chorou tudo que tinha para chorar para poder sorrir de verdade. Que coisa triste é um sorriso pela metade. Nos submetemos a cada coisa, né? Sorrir pela metade.  Vai aceitando felicidade mais ou menos, amigos mais ou menos e amores mais ou menos. Se mata, finge que não, dissimula, faz das tripas o coração mas dizer a verdade? Não. Essa simples negação é a causa e não a solução.
 E é por isso que estou apostando em abrir as portas para a verdade, dar a cara a tapa, e ouvir o que ela tem a me dizer. Sabendo que a verdade pode doer, que laços vão se desfazer e que só o que me vale vai permanecer. Arriscando jogar tudo pra lá, chutar o balde, meter o pé para acabar com todo tipo de farsa que possa haver. Desconstruindo paredes de realidades irreais para abrir portas para verdades adventícias. Sem medo e sem pesar, medo a gente tem que ter é de dissimular, iludir e enganar - aos outros e a nós mesmos: qual é a mentira que contas para o reflexo no espelho?
Sendo assim, não precisa ligar, mandar cartão, fax ou mensagem. Se as palavras forem vãs, jogue-as fora. Poupe aos outros e, primeiramente, a você. Mas se, sinceramente, quiser conversar, pode vir cá, a gente toma um chá, se acerta e papeia sobre as promessas para o ano que está para chegar.

A nossa existência, vida, passagem pelo planeta Terra, é marcada por momentos, histórias, estórias, risadas, quedas, lágrimas, tropeços, pessoas, sentimentos, cheiros e sons. E quantos sons! É impossível deixar de notar que nossas vidas parecem, por vezes, ter uma espécie de trilha sonora - ao menos a minha tem. Considerando que todas as linhas de nossas vidas são escritas em conjunto com aqueles que vivem conosco, resolvi compartilhar uma parte da trilha sonora do filme da minha vida em 2015. Afinal, o ano está indo embora e, sempre, vale a pena lembrar das coisas boas que foram produzidas - apesar de tanta bagunça, tivemos uma produção musical agradável no Brasil e no mundo. Sendo assim, separei (com muita dificuldade em escolher) 15 músicas que considero as melhores do ano de 2015. Pegue os fones de ouvido and let's have some fun.

1- Tô na vida - Ana Cañas
2- Hoje nunca mais - Ana Cañas
3- Passarinhos - Emicida (Part. Vanessa da Mata)
4- Singular - AnaVitória
5- Believe- Mumford & Sons
6- A noite - Tiê
7- Coisas - Ana Carolina 
8- Let it go - James Bay
9- Love me like you do - Ellie Goulding
10- Coisa Linda - Tiago Iorc
11- Adventure Time - Codplay
12- Let it all go - Birdy
13- Ela - Maria Gadu
14- Felicidade - Adriana Calcanhotto (regravação)
15-Like I'm gonna lose you - Meghan Trainor

E aí, foi ou não foi um ano musical? Caso queira compartilhar sua playlist, mande para cá.





Quando eu tinha, aproximadamente, 10 anos de idade (não vamos fazer cálculos aqui, por favor), em meio a brincadeiras de uma tarde quente de domingo, ouvi o Faustão dizer "E o que foi que te fez decidir ser Jornalista, Fátima?" parei de pular a tempo de olhar para a TV e ouvi-la responder "Me questionei sobre o lugar onde eu conseguiria ser com mais força. Me perguntei qual profissão seguiria para dar 100% de mim." Tudo bem, eu tinha 10 anos e uma tendência a ser a pessoa mais emotiva que esse planeta já conheceu mas a forma como ela disse isso me fez querer ser 100% em tudo, achar o lugar onde eu conseguiria chegar em 100%.
Depois que, finalmente, fui alfabetizada (trocando muitos "f" por "v" e muitos "p" por "b") comecei a escrever até nas paredes (literalmente) e, então não parei mais. Aos 10 anos de idade eu tinha dificuldades até para segurar o lápis mas, gloriosamente, os professores ao longo de minha vida escolar me apresentaram formas muito interessantes de aprender a escrever respeitando o meu tempo, o meu espaço e minha personalidade. Diários, agendas, cadernetas, guardanapos, e as últimas folhas dos meus cadernos começaram a ser dedicadas à escrita de pensamentos- muitas vezes desordenados. Para ordená-los, me faltava ler. E li. Aprendi a ler, definitivamente, aos doze anos de idade com o livro Pollyanna (super indicação, ein). A leitura me salvou - em vários sentidos. Encontrei meu 100%, me encontrei.
Comecei a escrever e hoje, alguns anos e muitas linhas depois, cada vez que escrevo uma palavra encontro o lugar onde, como diria Fátima Bernardes, consigo ser com mais força. Em cada linha, cada vírgula eu me vejo transbordar e vejo, com muito amor, as pessoas se encontrarem também. E aí me faço também, me construo e me encontro: na troca, quando alguém me lê. Sempre que escrevo, me sinto 100%, mas hoje estou 200%. Minha PRIMEIRA PUBLICAÇÃO aconteceu. 
Através do trabalho maravilhoso da Editora Andross (que também é parceira do blog) meu conto "Sabedoria Microscópica" foi publicado no livro (coletânea) Nanquim. A coletânea é composta por contos e crônicas, de temas diversos, de vários autores -alguns, assim como eu, estão em sua primeira publicação e outros já são publicados. O livro está recheado de coisas maravilhosas que, garanto, vão agradar a quase todos os gostos. Até mesmo você, que não gosta muito de ler (depois diz que não sabe escrever redação, né?) vai gostar. Os contos e crônicas são curtos e são muito bem escritos. 
Para custear os gastos da gráfica e da editora, os livros estão sendo vendidos a R$ 20, 00. Quem quiser adquirir o seu e, além de prestigiar a blogueira aqui, se divertir bastante pode me mandar uma carta, um fax, um sinal de fumaça para comprar. Espero que vocês gostem do trabalho tanto quanto eu - ou mais. Aguardo os comentários. E fico do lado de cá assistindo cada um encontrar o seu lugar de ser 100%. 
OBS: Os livros vão assinados e com um marca páginas personalizado da Editora. 

E-MAILS PARA CONTATO: anekaroline1@gmail.com / viverescrever@gmail.com
FACEBOOK: https://www.facebook.com/rearteculando/?fref=ts



"Tinha orgulho de mim...dedicado a nós"
Você era a rosa mais bela do paraíso
Sabia cada uma das canções celestiais
Meu coração nunca amou daquela forma
Lindo jardim de primavera verdejante
Eu existia apenas para você
Amo as pétalas que se espalham pelos descampados
Você as dispõe ali par ao meu deleite
De uma beleza afrodisíaca
Um ser cheio de mistérios pessoais
Jeito sedutor de quem sabe o que faz
Que talvez não saiba que sabe
Não é completamente certeza
Sei que há dúvida em ti também 
Ao menor sinal de encantamento
Menos se compreende e endurece
Explicar tudo isso seria impossível
E ainda assim o que sinto cresce
Essa é forma que o que sentimos toma
É o rumo a que nos dirigimos
A fronteira de uma abismo para saltarmos juntos
Melhor forma de estar ao seu lado
Parte comigo

Voltaremos sempre um para o outro

Adolfo Rodrigues


"Você foi apenas mais um alarme falso"

    O começo foi preenchido de alegria. A eletricidade que percorria o meu corpo quando a minha pele tocava a sua. Ouvir sua voz fazia o meu sorriso se alargar. Eu mergulhava na imensidão dos seus olhos, fundo. Então você vivia em meus pensamentos. Caminhava aqui e ali, em minhas memórias. E tudo parecia certo. Eu sabia que você precisava de muito espaço. Sabia que trazia consigo as marcas de um passado ao qual eu não tinha acesso. Mas o medo de saltar só existe até que você salte. Depois disso a queda livre vale a pena. E foi baseado nisso, que me permiti.
    Quando meus sonhos transbordaram com seus sorrisos e olhares, eu sorri. E enfim encontrei o equilíbrio na corda bamba, por um instante. O mundo caía ao meu redor, mas você me manteve firme. O que tínhamos era só nosso, e ninguém podia tomá-lo de nós. Ninguém, além de nós.
    Uma coisa que sempre me fez pensar é em como cada ser humano é um universo individual. Cheio de suas próprias nuances e formas de existir. Meu universo é amplo, quente e cheio de vida. Meu universo é combustão, acúmulo de poeira estelar, surgimento. Meu universo é complexo, cheio de falhas e imperfeições. Você começou a conhecê-lo, um dia. Mas, serei honesto, como todos os outros, interessou-se apenas pela superfície.
Se todos nós somos uma equação única, por que tantos tem a mesma resposta?
    E mais uma vez eu fui pego mergulhando de cabeça em um lago raso. Tentando encaixar minha completude em uma caixinha. Tentando ser completo por dois. Uma vez mais me pego tentando sentir por dois, criar alguém para estar comigo, quando, na verdade, esse alguém já está incompleto faz tempo. O que você tinha de mais precioso você escondeu. Por tanto tempo que nem se lembra onde está. E agora terá de viver incompleto, colocando a culpa de sua incompletude em outras pessoas. Preenchendo-a com amigos vãos, em lugares vãos, com bebidas vãs.
    Pode demorar, é verdade, mas seguirei em frente. O bom de ter o coração partido é que se pode distribuir os pedaços. Quanto ao que uma vez existiu, talvez a resposta seja clara. Quando dois não mais compartilham de um desejo, a resposta é o fim.
    Sim. O mais simples e absoluto fim. Onde os laços são afrouxados, para outrora serem partidos, e enfim conquistarmos o ar sobre a superfície de nossos mares de tristeza. Você é pássaro, eu sei. Prefiro deixar-te ir a ser eu gaiola a te aprisionar. Se você vai encontrar outra mão para pousar, não devo me perguntar. Mas se o que eu sinto é real, só te ver sorrir já basta. E mesmo não me contentando, me contentarei.
    O caminho existe, quer você o percorra ou não...

Adolfo Rodrigues



Tentei ser mais gentil que o necessário e percebi que, para isso, teria que ser minimamente gentil:  a quantidade necessária. Não tratando, aqui, a gentileza como algo obrigatório. Me refiro à gentileza como aquele elemento essencial para a boa convivência humana, para a boa vivência - deixando de tratar a vida apenas como existência. Me refiro, aqui, ao mínimo da gentileza- aquele mínimo que vem sem sacrifícios e sem maiores esforços, aquele mínimo que deveria vir naturalmente se, ao longo do tempo, não o tivéssemos podado. O mínimo da gentileza é pensar no outro como se pensa em si mesmo. 
Como anunciei aqui, me coloquei no desafio de ser (durante sete dias) o mais gentil que o necessário. Tentei. O desafio não me ensinou a ser mais gentil que o necessário mas me mostrou, por outro lado, que não consigo ser mais gentil que o necessário pois ainda não sei ser minimamente gentil. Ainda não sei amar genuinamente. 
Tornando isso uma razão ainda maior para começar, resolvi aceitar as chances do universo e me dispus (com muita alegria por ter conhecimento da oportunidade) a ajudar uma causa maravilhosa: a Trupe do bem. Trata-se de um grupo de pessoas dispostas a ajudar as pessoas de Brasília e região. Sendo assim, estão organizando uma linda ação social para o próximo domingo (dia 13 de dezembro) atendendo 450 crianças o Natal do bem vai acontecer no Bairro Sol Nascente na cidade de Ceilândia. As crianças receberão lanche e brinquedos. Contudo, nem todos os brinquedos foram conseguidos. Portanto, se você quiser ajudar, pode doar um brinquedo novo ou usado em bom estado ou qualquer quantia em dinheiro. Os brinquedos serão embalados na quinta feira próxima. Caso você se interesse (como aconteceu comigo) curta a página da Trupe ou fale comigo
Aguardo vocês, rearteculadores!


foto: Ane Karoline


Tenho tentado atenuar, diminuir e suavizar. Tentado tornar tudo mais leve e fácil, diminuindo o passo. Tenho trancado as tempestades e tantas vontades. Trancando algumas verdades aceitando calamidades, pura e simplesmente para evitar qualquer descompasso. Tenho tido tanto medo de tropeçar, cansada de frequentemente titubear. Tenho evitado falar, querendo tanto acertar, tenho evitado falhar. Mas tenho tanto, tão tenazmente, que não é possível atenuar. Não quero mais sobre essa linha tênue me equilibrar. Não dá.
Temo ser essa infinitude insistentemente incoerente, irrequieta e inconstante. Tornaria-me irreconhecível se não fosse impertinentemente  . Trago, inerente à essência, esse desejo insaciável pelo que é intenso. Teimo, por vezes, em ser inconciliável, irremediável trazendo ideias incompatíveis. Mas, intimamente, é simples interpretar: não há necessidade de atenuar, é muito mais eficaz aceitar.
Traço escapatórias entre equações e evidências, estruturando decisões hesitantes. Tanto traço que tropeço na desordem de dúvidas equivocadas. Esquivo-me e continuo a cair e a encher-me de enganos ambíguos e esvaziar-me da essencial espontaneidade. E essa, agora vejo, é tão extremamente essencial que se não a exerço esvaio-me.
Teorizo as sensações sabendo que as sentirei ainda mais. É que, veja bem, tomei para mim a tarefa de sentir vigorosamente, sem voltar atrás. Se voltar, seja sempre para amar mais. Troquei o atenuar pelo acentuar, o trancar pelo tecer e o equilibrar pelo enfatizar. Testemunho, agora, tropeços equivalentes a recomeços. Evitando-se tropeçar, empata-se o levantar.









"Ficaria, ficar e ria..."


Ele coleciona memórias
guarda coisas na cabeça boa
cria outras na mente estranha
vive na hora tardia
Saltando da balaustrada da varanda do seu quarto
Encontra a escuridão no meio da noite
faz amizade com os seres que vivem abaixo das estrelas
Ele foi tão magoado que lhe falta espaço para mais
há riscos em seu coração
marcas e rasgões, feridas e arranhões
Ele olha pra cima, para conter as lágrimas
Ele quer casa, teus braços
Que o envolva em seu lar móvel
Faz corda bamba das quinas das calçadas
Vira as esquinas e vê o mundo girar
Quem era ontem não conhece quem é hoje
Vive apoiado nos escombros de seus sentimentos
Apoiado nos fios elétricos de decepções passadas
A água da chuva escorre e ele observa
e o reflexo é seu melhor amigo
mas ele o acha feio
E enquanto ele não é o único
Anda pela cidade de madrugada
caça sombras e pesadelos
sorri e diz que está bem
Chora no pé da cama
Arrisque por ele, não vai se arrepender
Ele respira a vida que se esvai
O tempo é um inimigo constante
Por que tudo tão cinza?
Você é seu único floco de neve
Se não soma, então some
Deixa o beijo, desejo
Vem dar seu presente de aniversário
O enche de energia, carrega
Sobrecarrega,  e esquenta
E ele vive mais um mês, talvez
Mas teme pelo futuro, pensa mais que devia
Ele continua em seu caminho
mais perdido do que antes
Torce apenas para que você continue sendo a luz
para que ele possa continuar a caminhar
Você é a terra para a sua semente
plante-se nele
e por fim
Germine...

Adolfo Rodrigues


"Guardei as memórias de forma organizada, em prateleiras.
Me perdi em meio a tantas, um labirinto."


Jogado em um canto como uma boneca de trapos
Agarrado aos meus farrapos
Caído em meio a uma sala vazia
Aquecido apenas pela luz do dia

Eu era um brinquedo em seus hábeis dedos
compartilhamos tantos segredos
Hoje eu repouso sobre o chão empoeirado
O que resta de mim estraçalhado

O meu exterior reflete a minha dor
Meus olhos vermelhos com ardor
O mundo teve suas cores roubadas
No momento em que nossas memórias foram quebradas

O som já não me me alcança
Meu coração perfurado por uma lança
O dia se vai e traz a escuridão
Quase tão profunda quanto em meu coração

Enquanto o silêncio me conta a verdade
Minto pra fugir da realidade
Você encontrou um novo brinquedo
Dentro de mim criei um rochedo

Desaprendi como se faz para amar
Hoje vejo a vida passar
Vivendo em modo automático
Espero meu momento mágico

Hoje a saudade bateu. E eu, como sempre, apanhei...


Adolfo Rodrigues