"Você foi apenas mais um alarme falso"

    O começo foi preenchido de alegria. A eletricidade que percorria o meu corpo quando a minha pele tocava a sua. Ouvir sua voz fazia o meu sorriso se alargar. Eu mergulhava na imensidão dos seus olhos, fundo. Então você vivia em meus pensamentos. Caminhava aqui e ali, em minhas memórias. E tudo parecia certo. Eu sabia que você precisava de muito espaço. Sabia que trazia consigo as marcas de um passado ao qual eu não tinha acesso. Mas o medo de saltar só existe até que você salte. Depois disso a queda livre vale a pena. E foi baseado nisso, que me permiti.
    Quando meus sonhos transbordaram com seus sorrisos e olhares, eu sorri. E enfim encontrei o equilíbrio na corda bamba, por um instante. O mundo caía ao meu redor, mas você me manteve firme. O que tínhamos era só nosso, e ninguém podia tomá-lo de nós. Ninguém, além de nós.
    Uma coisa que sempre me fez pensar é em como cada ser humano é um universo individual. Cheio de suas próprias nuances e formas de existir. Meu universo é amplo, quente e cheio de vida. Meu universo é combustão, acúmulo de poeira estelar, surgimento. Meu universo é complexo, cheio de falhas e imperfeições. Você começou a conhecê-lo, um dia. Mas, serei honesto, como todos os outros, interessou-se apenas pela superfície.
Se todos nós somos uma equação única, por que tantos tem a mesma resposta?
    E mais uma vez eu fui pego mergulhando de cabeça em um lago raso. Tentando encaixar minha completude em uma caixinha. Tentando ser completo por dois. Uma vez mais me pego tentando sentir por dois, criar alguém para estar comigo, quando, na verdade, esse alguém já está incompleto faz tempo. O que você tinha de mais precioso você escondeu. Por tanto tempo que nem se lembra onde está. E agora terá de viver incompleto, colocando a culpa de sua incompletude em outras pessoas. Preenchendo-a com amigos vãos, em lugares vãos, com bebidas vãs.
    Pode demorar, é verdade, mas seguirei em frente. O bom de ter o coração partido é que se pode distribuir os pedaços. Quanto ao que uma vez existiu, talvez a resposta seja clara. Quando dois não mais compartilham de um desejo, a resposta é o fim.
    Sim. O mais simples e absoluto fim. Onde os laços são afrouxados, para outrora serem partidos, e enfim conquistarmos o ar sobre a superfície de nossos mares de tristeza. Você é pássaro, eu sei. Prefiro deixar-te ir a ser eu gaiola a te aprisionar. Se você vai encontrar outra mão para pousar, não devo me perguntar. Mas se o que eu sinto é real, só te ver sorrir já basta. E mesmo não me contentando, me contentarei.
    O caminho existe, quer você o percorra ou não...

Adolfo Rodrigues

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