Agora, nesse exato momento no qual você está lendo isso, as coisas estão diferentes. Eu sei que estão. Sei que as coisas estão diferentes de alguns minutos atrás; estão diferentes de ontem e estão diferentes de dois meses atrás. O tempo tem essa habilidade incomparável de movimentar a vida tirando tudo do lugar, sem pedir permissão. Isso acontece: quer você queira, quer não.  E por pior que isso pareça, a condição de mudança é a nossa salvação.
Lembro-me da primeira vez em que me disseram "Você não é mais criança". Eu me tranquei no banheiro e chorei porque queria permanecer na infância, não só porque ser criança é maravilhoso (até porque eu não sabia disso na época) mas porque eu tinha medo do que viria a seguir, medo do desconhecido, medo da mudança. Essa condição irrevogável do tempo, de nos tirar do eixo constantemente, me assustava. Depois vieram vários outros momentos, várias pessoas, várias coisas e sensações que eu quis muito, quis com todas as minhas forças guardar para sempre. Mas isso foi quando eu ainda achava que o para sempre é presencial, é ter alguém segurando sua mão sem soltar. Eu tive muito medo do desconhecido quando achava que o para sempre era a estabilidade, depois percebi que não: o para sempre é o que você faz no futuro com o presente. Quando meu avô morreu, por exemplo, eu achei que não ia conseguir seguir a vida e que ele não existia mais, mas ele existe cada vez que decido olhar para os dois lados antes de atravessar a rua: ele existe em cada pequena coisa que aprendi com ele e o que faço com essas coisas ao longo da minha vida e das minhas mudanças. 
Digo tudo isso porque eu sei o medo que dá amar alguém. Eu sei que quando o indivíduo amado ameaça ir à esquina a gente tem medo que ele não volte. Eu sei que mesmo quando está tudo bem, mãozinhas entrelaçadas, a gente sofre e tem medo da partida. Quando está tudo ruim, a gente sofre também. É que às vezes bate um vento e o fulaninho-meu-amor vira a esquina e vai embora. E o meu coração vai junto. Eu sei disso. E eu vou ter que dizer: vai embora sim, o fulaninho-seu-amor vai embora. Mas você também vai. O vento que o leva embora, te leva para outro lado. Vai doer, mas vai doer mais se você tentar o vendaval conter. Deixa o vento bater, deixa ser o que tiver que ser.
As coisas acabam. Ou, ao menos, deixam de existir daquela maneira (como meu vôzinho): acaba um relacionamento aqui mas você aprende, pelo menos, com quem não se relacionar. Esse é o eterno, o que vai ficando com cada experiência, o que vai ficando em nós de cada pessoa, de cada lugar, de cada queda. A gente quer tocar o eterno, quer buscar o eterno, quer viver o eterno, quer ter o eterno mas o eterno está dentro de nós. Essa luzinha que se acende cada vez que sorrimos, cada vez que tocamos alguém, cada vez que vemos alguém que amamos sorrir, cada vez que amamos e nos sentimos amados - isso é o eterno. 
Discursos, por vezes, parecem demagogias mas é isso que temos: nada. O tempo passa mesmo, sem a nossa permissão ou decisão, e, com ele, vai levando e trazendo gente, vai construindo e desconstruindo amores, vai ruindo e reformando vidas. Só nos cabe mesmo saber o que vamos fazer com as passagens, nos resta decidir o que fazer com a herança do tempo em nós. E, algumas vezes, por mais que não pareça, a solução é não dar certo.



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Um forte abraço!





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