"Encantado nos cantos e nos recantos sombrios
Ouço os lamentos e prantos de corações vazios"

   Há momentos em nossas vidas que são tão importantes que se tornam memórias permanentes. Algo que, para você, foi marcante, e não foi para mais ninguém. São memórias especiais. Foi pensando nisso que comecei uma reflexão, recentemente. Há certezas em nossas vidas que carregamos desde que o pensamento se torna voz interior. Como se fosse uma herança trazida de uma vida passada, uma cicatriz que cruzou a linha da encarnação e nos acompanhou até o próximo estágio. Algumas dessas marcas vem em forma de dons, facilidade para fazer certas coisas, como desenhar ou dançar. Outras vem em forma de certezas pessoais, sensações inexplicáveis.


      Uma imagem criada, manipulada. Nos foi ensinada sem que  nós percebêssemos. Começou quando aprendemos que azul era cor de menino e rosa era cor de menina. Quando nos disseram que menina não pode brincar de carrinho, e menino não pode brincar de casinha. Quando, sem nenhuma base sólida, nos ensinaram a ser binários. Gêneros acima de caráter.
      Começou quando, em algum momento, ouvimos um comentários racista, ou vimos um ato de racismo. Seja de nossa mão com a moça que limpa  a nossa casa, e tem a pele negra, ou de um amigo que brinca sobre o tamanho do dote do japonês. Talvez quando assistimos aos filmes, e notamos a ausência das pessoas negras nos papéis principais. Nossa identidade está sendo construída pela mídia. O herói é sempre branco, a mocinha espera que ele salve o mundo para poder beijá-lo e se entregar a ele, como recompensa por seu trabalho árduo.
      Se solidificou quando levamos um tapa, por que homem tem que engolir o choro e parar de "frescura". Ou quando, sábado após sábado, nossos pais nos fizeram sentar em frente à TV para assistir ao jogo, por que isso é coisa de homem. Talvez quando aquele tio nos deu um gole de cerveja ,quando ainda tínhamos apenas 9 anos, por que homem começa a beber cedo. Quando nossos pais gritaram conosco, que ser vegetariano era coisa de "viadinho". 
      Nós ouvimos as palavras sendo transformadas em termos pejorativos. O coleguinha disse que aquilo era muito "gay". Papai falou que isso é coisa de "boiola". O fulano de tal é "baitola". Amigos de verdade se cumprimentam xingando um ao outro de "viado". E isso é visto, pela maioria, como tradição, cultura, ou a famosa desculpa; "coisa de menino".


Devolva-me
As noites sem dormir, pensando em você
Os sorrisos bobos ao ler suas mensagens
Os minutos imaginando a sua voz
O arrepio que eu dei quando você beijou o meu pescoço
As gargalhadas que suas piadas arrancaram de mim
O brilho que seus olhos roubaram das estrelas
O calor que usei pra te aquecer naquela noite fria
A respiração que perdi em todas as vezes que te vi