Uma imagem criada, manipulada. Nos foi ensinada sem que  nós percebêssemos. Começou quando aprendemos que azul era cor de menino e rosa era cor de menina. Quando nos disseram que menina não pode brincar de carrinho, e menino não pode brincar de casinha. Quando, sem nenhuma base sólida, nos ensinaram a ser binários. Gêneros acima de caráter.
      Começou quando, em algum momento, ouvimos um comentários racista, ou vimos um ato de racismo. Seja de nossa mão com a moça que limpa  a nossa casa, e tem a pele negra, ou de um amigo que brinca sobre o tamanho do dote do japonês. Talvez quando assistimos aos filmes, e notamos a ausência das pessoas negras nos papéis principais. Nossa identidade está sendo construída pela mídia. O herói é sempre branco, a mocinha espera que ele salve o mundo para poder beijá-lo e se entregar a ele, como recompensa por seu trabalho árduo.
      Se solidificou quando levamos um tapa, por que homem tem que engolir o choro e parar de "frescura". Ou quando, sábado após sábado, nossos pais nos fizeram sentar em frente à TV para assistir ao jogo, por que isso é coisa de homem. Talvez quando aquele tio nos deu um gole de cerveja ,quando ainda tínhamos apenas 9 anos, por que homem começa a beber cedo. Quando nossos pais gritaram conosco, que ser vegetariano era coisa de "viadinho". 
      Nós ouvimos as palavras sendo transformadas em termos pejorativos. O coleguinha disse que aquilo era muito "gay". Papai falou que isso é coisa de "boiola". O fulano de tal é "baitola". Amigos de verdade se cumprimentam xingando um ao outro de "viado". E isso é visto, pela maioria, como tradição, cultura, ou a famosa desculpa; "coisa de menino".
      Foi instituído quando as meninas ganharam de presente um "jogo de panelas", para aprender como ser boas mulheres quando crescerem. "Ela já vai praticando", disse a tia. Mulher tem que saber cozinhar, não pode rir muito alto, não pode ser muito gorda, nem muito magra, tem que usar maquiagem, tem que andar de salto, tem que usar vestido, tem que gostar de rosa, tem que aprender a limpar a casa desde cedo, e a ser obediente. Vivemos em uma ilusão de que simplesmente por que isso não é mais dito, isso não seja mais verdade. Engano nosso.
      Essas tão ditas "tradições" estão sendo esfregadas em nossas caras, quando um jogo de panelas transformou-se em brinquedo. Quando o corpo da Barbie é perfeito e o pé dela vem pronto para o salto alto. Quando o menino toma banho e não troca a cueca, mas está tudo bem, por que homem é assim mesmo. Quando o parceiro é rude, grosseiro, teimoso, mas todo homem é assim. 
                          Não tem que ser!
               Quem disse que tinha? Quem instituiu essa regra? E que poder ele tinha para tanto? 
      Por quê o homem se encolhe se for elogiado por outro homem, mas uma mulher não o faz, na mesma situação? É um mecanismo de defesa. Ele foi condicionado a reagir mal. A partir para a briga, a se sentir ofendido, incomodado. A mente dele foi moldada para fugir daquilo. Para não ver a naturalidade de dizer algo como "Hoje você está bonito, meu amigo".
      Homem pode chorar, por que homem sente. Algumas vezes mais que as mulheres, que, podem muito bem não ser tão sensíveis e sentimentais. A persona, o caráter existe na alma. Engano nosso achar que temos uma alma. Nós somos almas. Nós temos um corpo. E o que nos define não é nosso gênero. O que me torna homem não é ver o jogo todo sábado, adorar cerveja, saber tudo sobre carros, ser firme como uma rocha, sem sentimentos, ser provedor do lar, mas não educador ou orientador, mas sim agir como uma pessoa ética, respeitadora do próximo e de sua expressão.
      É a compreensão de que a cor da minha pele não me torna superior a ninguém. Que algumas das figuras mais poderosas, inteligentes e belas do mundo são negras. E que os asiáticos são bem sucedidos em seus projetos por que vivem em uma cultura de incentivo e trabalho duro. Por que não pegam atalhos. Por que desejam ser os melhores em tudo o que fazem. 
      Eu não preciso me encolher ao ver um grupo de rapazes negros na rua. Os verdadeiros bandidos estão fazendo política no nosso mundo, e eles tem todas as cores. Nós somos diferentes, e é isso, e apenas isso, o que nos torna únicos. Então se alguém pensa, se expressa ou vê o mundo de uma forma diferente da sua, você tem duas opções. A primeira é calar a sua boca e respeitar a ela e à sua liberdade de expressão, e a segunda é tentar conhecer e compreender essa pessoa, sem critica-la ou julga-la no processo. Se não foi nenhuma dessas opções, está errado. 
      Não, você não pode ter o que quer dos outros apenas por que é mais forte. Os fracos são mais fortes quando se unem, e não há poder que seja absoluto. Não está tudo bem usar desculpas como "eu não consegui me controlar", "Ela estava com a roupa curta", "Não, às vezes quer dizer sim", "Ele tem cara de bandido", "Ele estava dando em cima de mim", e etc, para fazer o que se bem entende. Não, seu babaca problemático, egoísta e superficial, você não tem esse direito. Não está tudo bem tratar mal uma pessoa que trabalha como servente, apenas por considerar o trabalho dela inferior. Não está tudo bem usar palavras como "gay", "veado" e etc, como termos pejorativos. Não está tudo bem forçar o meu filho a se comportar como eu me comporto. Impor minha ideologia a ele e transformá-lo em uma cópia de mim. Não está tudo bem ensinar às crianças a serem como nós, por que já provamos muitas vezes que nossa geração ainda pode melhorar.
      Não, só por que o seu amigo é homossexual isso não quer dizer que ele está afim de você, ou que ele vá dar em cima de você, ou se aproveitar para te olhar quando você for trocar de roupa. Desce do palco, você não é tudo isso. Ele não está afim de qualquer homem do mundo, tanto quanto você não sente atração por cada mulher que vê na rua. Entenda, ele sente o mesmo que você, por um gênero diferente. Se você é amigo dele, e o respeita, ele te respeitará de volta.
      Se você está lendo isso, e se identificou com algum dos comportamentos reprovados acima, use essas linhas para refletir sobre todas as formas como você pode, inconscientemente, ter contribuído para o contínuo apodrecimento de nossa sociedade. E lembre-se, não fazer nada é tão ruim quanto fazer uma coisa ruim. Se for difícil, dê passos curtos. Escolha uma meta e trabalhe em cima dela, até que esteja resolvida. Então passe para a próxima, e construa uma pessoa melhor dentro de você. O universo agradece, e seus netos também agradecerão, pois, por causa do seu esforço, eles viverão em um mundo melhor. 

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