Aí está. Está dito. 
Não estou mais com o coração em pedaços. De verdade, não estou. Não sou só uma garota falando isso para convencer a todos a me olharem com olhos curiosos. Eu estou dizendo isso porque é a verdade. É exatamente isso: eu sinto a sua falta. Está dito. Mas não te vejo mais como um hábito em minha vida.
Eu não penso instintivamente em te ligar, eu nem tenho mais seu número memorizado (é 92 ou 95?) e, quando alguma coisa acontece, eu não vejo mais as minhas mãos procurando pelo celular para te mandar alguma mensagem com os detalhes. Há um tempo você não tem sido mais o meu contato de emergência e, honestamente, eu acho que não conseguiria reconhecer sua voz em uma multidão.
Mas ainda existem dias, ainda existem momentos em que tudo que eu quero fazer é olhar para você sorrindo e revirar meus olhos. Existem dias, existem momentos em que sei que tenho sido estúpida e sei que você ainda riria de mim. Existem dias, existem momentos em que sinto como se você o único que me entenderia. E, então, eu posso admitir que existem momentos em que, mesmo que eu não consiga me lembrar da sua voz, eu ainda sinto falta do seu sorriso e, ainda, adoraria te ouvir gargalhar.
Posso até repetir: eu ainda sinto sua falta. Está dito. Mas eu não estou vazia. Eu não sinto como se houvesse um buraco om o seu tamanho exato em meu peito. Eu não assisto o sangue pulsar pelas minhas veias enquanto suas mentiras fluem em mim. Eu não te procuro para que você termine minhas frases ou me busque no fim do dia. Eu não estou tentando completar nada porque eu sou completa. Totalmente completa. Inteira.
Mas, ainda assim, vejo meus dedos procurando por seus ombros para acariciá-los enquanto você me abraça. Me vejo engolindo seu nome quando estou em lugar vazio e gostaria de alguma companhia. Me abraço e penso "Ele adoraria isso" enquanto observo as noites de verão e o céu estrelado. Eu sou inteira, mas isso não significa que não haja um espaço. 
E apesar de dizer, com toda a verdade que há em mim, que ainda sinto sua falta, eu não estou mais esperando por você. Eu não fico mais acordada durante a noite e não estou sentada na cama, encarando a porta, esperando que você, magicamente, apareça. Eu não fico mais observando a relógio e me sentindo decepcionada por você não aparecer. Não estou guardando espaço para você. Na verdade, não há nada para você aqui. Esse é um mundo que criei sem você, não te pertence e eu não estou esperando que você venha pedir um espaço aqui. 
Não estou esperando, desejando, procurando e nem orando por isso. E, definitivamente, eu não estou esperando. Estou mais velha e um pouquinho mais esperta. E eu sei que não, tão pouco, espaço aí para mim. Eu mudei e eu, simplesmente, não tenho mais um coração em pedaços por sua causa.
Eu poderia afirmar que não há mais nada, exceto pela saudade. Ainda há alguma coisa. Eu posso fingir ignorar isso, como tenho feito, mas continua aqui. E, por mais que eu tente, não posso negar. Porque eu acho que sempre haverá algo, pelo menos enquanto eu sentir sua falta. 
Eu ainda sinto a sua falta e acho que uma parte de mim sempre vai sentir.


TEXTO EXTRAÍDO DO SITE THOUGHT CATALOG  E TRADUZIDO POR ANE KAROLINE.
LINK DO TEXTO ORIGINAL - em inglês.






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"De repente você está assustado e não sabe o que te assusta"
Quando me percebo prestes a desmoronar, limpo o quarto, arrumo a cama, tiro os lixos jogados no canto do quarto, organizo todas as roupas por cor e me deleito arrumando a escrivaninha. Literalmente. E isso sempre funcionou, até que, finalmente, pude me ver no espelho e percebi: a verdadeira bagunça estava dentro mim. Desisti de dissimular. Vesti minha expressão de "hoje não" e decidi me dar um tempo: coloquei-me a assistir (pela milionésima vez) uns dos meus filmes preferidos e observar o que a minha personagem favorita faria - atitude bem madura, eu sei.
Nada, foi tudo que Holly Golightly fez. A casa estava uma zona,  os sapatos espalhados, o telefone, guardado e abafado para não lembrá-la, tão cedo, dos problemas que insistiam em chamá-la. Quando questionada, ela se justifica dizendo que já que ainda não encontrou a si mesma, não haveria razão para empenhar tempo em construir um lugar, físico, de morada permanente. E, confesso, ponto para você, Holly: a nossa primeira casa, é dentro de nós e de lá não há como fugir. 
"Não importa para onde você corra, você sempre vai acabar correndo para dentro de si mesmo."


Mas a gente foge: e como foge! Eu mesma, confesso, sou uma fugitiva assumida com radicalidade, mas fujo de outros, nunca de mim. Um passo além da conta e lá estou eu: fugindo para longe de quem quer que seja que tenha tido a valentia de se aproximar demais. E nisso, também, Holly me compreende muito bem. 
"Pessoas não pertencem a outras pessoas."

Poderia parar por aqui e concordar com todos os pensamentos - mundialmente glorificados- de Holly e assinar, definitivamente, minha carteirinha da pessoa mais cliché do universo. Mas tenho que dizer que, diferentemente de Holly, eu, ainda não tenho forças para ficar. Eu sempre chego perto de ficar. Sempre chego perto de ser maior que o medo de me perder. Sempre chego muito perto de, finalmente, aceitar que existe um lugar que me cabe e no qual eu esteja disposta a ficar, um lugar que valha a pena ser arrumado, organizado e trabalhado. Eu sempre chego muito perto, até perceber que ainda não. Ainda não encontrei esse lugar  que "eu não sei onde é, mas sei como é" e quando eu o encontrar, acredito (como Holly) que saberei reconhecê-lo. 



Ane Karoline






Imagem: google


É perturbador. Você me tirou um pouco da fé que eu tinha nas pessoas, sabe? Me fez duvidar do amor, ao perceber que ele nem sempre é o bastante. Sei disso porque eu te amei. Na verdade, ainda amo e, todos os dias, tento limpar um pouco da bagunça que esse amor deixou aqui. Tento encaixotar cada parte desse amor aos poucos e guardar em algum lugar onde pese menos, um lugar onde todas as lembranças não baguncem tanto a sala de estar da minha vida. 
Em alguns dias sou mais forte e encaro a confusão. Em outros dias nem tanto. E, ainda existem dias, certos dias em que eu apenas apenas fecho os olhos, puxo a coberta e choro baixinho para ninguém ouvir - para que acreditem que sou realmente tão forte quanto pareço ser. E, assim, vou seguindo: um dia após o outro, um passo de cada vez, me reorganizando devagarzinho, percebendo que não é possível ir mais rápido, ansiando que o tempo faça seu trabalho.
Tenho também que admitir que caminho de forma contida porque estou decepcionada e com medo. Eu apostei alto no que tínhamos e perdi tudo. Eu achei que nunca perderia, entreguei tudo que tinha, mas errei, e, quando a gente erra nessa proporção, é difícil se equilibrar na estrada da confiança outra vez. Tenho, sobre mim, uma nuvem de medo constante de passar por isso de novo. Não aguentaria essa dor, a devastadora sensação de não ter nada novamente - me desespero só em imaginar, cogitar algo assim. Esse medo fez com que eu me fechasse para as pessoas, em uma tentativa de proteger meu coração até que eu fique mais forte. Na verdade, espero ficar forte um dia. Espero não fugir do amor para sempre, não ficar com o pé atrás com todos os caras que se aproximarem de mim, duvidando de tudo. Espero sair dessa.
Não dá para negar: é muito doloroso quando a gente acredita em alguém, quando a gente, cegamente, acha que conhece alguém e, de repente, percebe que tudo foi um erro, uma sucessão de erros que durou tempo demais. Nesse caso, uma sucessão de erros que durou tempo suficiente para que eu me dispusesse a fazer esforços inimagináveis. Eu ia abrir mão de quem eu sou, por você. Acho que você não tem a mínima ideia do que é isso: eu cogitei me anular, esquecer meus sonhos e te escolher. Estive a centímetros de o fazer, de pular de cabeça mais uma vez, quando algo me segurou, me olhou nos olhos e me lembrou que o amor não prende, o amor dá asas. O amor é voo!
Foi assim que fiz a escolha mais difícil da minha vida: eu me escolhi. Apavorada, fechei os olhos, inspirei, reuni toda a coragem que existia em mim e cortei os laços. Em um rompante de coragem súbita. Desesperada, bati a porta e saí correndo na minha direção. Doeu ter que fazer isso sozinha. Eu era uma menina que acreditava no amor, ansiosa para ser "feliz para sempre", em busca do futuro. Mas me tornei mulher.
Me tornei mulher ao entender que não existe um final feliz se o caminho não for feliz, porque o futuro é feito de vários presentes, é feito agora! Me tornei mulher ao entender que ninguém vai me completar, eu sou completa e devo buscar, em mim, os sonhos que meu coração anseia, a força que meus pés precisam, as respostas para todas as perguntas que carrego também em mim. Me tornei mulher ao perceber a beleza existente na paciência, na confiança plena de que o que é meu vai chegar até mim, desde que eu continue caminhando e me construindo para estar pronta e perceber quando chegar. Me tornei mulher ao ver que o futuro é o que eu decido agora, e eu preciso me organizar para caminhar sem pressa mas, também, sem perder tempo. 
O que eu quero dizer é que eu nunca direi nunca - na verdade, ainda busco maneiras e caixas grandes o suficiente para encaixotar esse amor que ainda é teu - mas, hoje, eu enxergo o mal que nos fizemos mutuamente. Vejo todos os nossos erros e quero continuar me escolhendo. Todos os dias, antes de sair de casa, eu relembro cada motivo e convenço meu coração de que partir foi a melhor escolha. Bato a porta do carro e falo em voz alta, como que uma prece para o meu coração entender: hoje não. 



imagem: google

Eu sei. Eu disse que tinha fechado a porta, mas não fechei: deixo-a entreaberta para o caso de você se encontrar e perceber que o seu caminho, por si só, leva a nós dois. Por enquanto, vou caminhando também, sem excluir a possibilidade de -quem sabe um dia- conseguirmos encontrar espaço para nós aqui dentro. Esse nós que, de tão simples, passou despercebido. Esse nós que, por repetidas vezes, foi tido como morto. Esse nós que, agora, vejo estampado em cada linha do meu rosto - linhas que ficaram pelos sorrisos e pelas lágrimas. Esse nós que me impediu de fechar a nossa porta.
Eu admito: não foi por falta de incentivo.Eu disse a mim mesma umas quinhentas vezes - e o dobro de vezes ouvi de outros: esquece, fecha a porta, joga a chave fora. Não o fiz. No fim, ninguém sabe qual é a chave que nos destranca inteiros. E foi por isso que, tantas vezes, hesitei em colocar um ponto final nessa história que, de tão previsível, se tornou uma estória. Hesitei porque não existe ponto final logo após uma vírgula: após a nossa última vírgula, achei que haveria uma última palavra que gerasse, ao menos, uma catarse para, enfim, ocasionar o ponto final. Esperei como quem espera algo importante após os dois pontos: nada aconteceu.  Vou abrir mão da ortografia dessa vez. Depois de tantas vírgulas, depois de tantas palavras entre vírgulas, não tenho mais ânimo para escrever nada que leve a um ponto final, a um digno final. Portanto, estou deixando a porta aberta.
Eu sigo. Eu disse que não olharia para trás mas olho. Não que eu vá voltar, mas vez ou outra alguém, algum lugar, um cheiro, um sabor, um nome, uma música ou alguma coisa me faz olhar e sei que não há como evitar.  Olho, agora, caminhando para longe, sem medo. Olho, a cada passo mais distante e tudo vai ficando menor. A miopia você já conhece: quanto mais longe, menos visível, mais confuso, mais fraco, mais morto. Até que seja apenas um borrão distante demais para que signifique alguma coisa. De longe, é um borrão sempre presente, mas sem qualquer significado.
Eu decifrei. Eu disse adeus porque, dessa vez, eu parti.  Ao invés de fechar a porta que me levava até você, e ficar te esperando voltar e bater, eu a escancarei e segui para o lado oposto.Caminhando para longe da falta de coragem e frigidez que sempre me assustaram. Me apressei mais em seguir que em resolver problemas sem fórmula ou solução.  Deixei a porta aberta mas não foi para te ver voltar, foi porque, estando ocupada em seguir, não me preocupei em fechar.