Somos quem somos, por que a vida nos fez assim. Carregamos as marcas das batalhas sem fim. Nascemos com a pureza que é concedida às almas, mas vivemos em um mundo de escuridão e tristeza. Não escolhemos brilhar desse jeito. A simpatia é latente em mim. Mas, algo em meu brilho parece incomodar aos outros. Não sei se é a forma como estou sempre rodeado de amor e carinho, ou a simplicidade de saber me cuidar sozinho. Só sei que assim o é.
     Sei que aqueles que me invejam não sabem o preço que pago pela vida que levo. Que não sabem a dor e sofrimento que me trouxeram até aqui. Não sabem quantas vezes me odiei, ou quantas vezes palavras me feriram como o aço. Sequer imaginam o peso que carrego dentro desse coração em pedaços, que carrego remendado dentro de mim. Acham que sou um muro, mas não sabem que meu interior é ouro líquido. Vivo pelo instinto. Instinto esse que nunca falha, eu que tenho tendência a ser idiota e não seguir.
     Me construo e reconstruo, e quem eu sou pela noite, não reconhece quem eu era pela manhã. Sei aguentar a dor, disfarçar e fingir que não doeu. Sei mostrar seriedade, honra e moral. Sei cuidar de mim mesmo e não depender de ninguém. Mas também sei amar como nenhum outro. Sei dar minha intensidade de presente. Sei aquecer, iluminar e fazer delirar. Me conquista e me entrego. De bandeja. Não existe meio quando se trata de mim. Deve ser por isso que me machuco no fim.
     Aos aliados ofereço sempre 110%. Cuido de quem amo, como parte de mim. Está no meu âmago, eu nasci assim. Se te provas indigno da devoção, saiba que sofrerá com a minha rejeição. Pois, não me é natural o perdão. E a minha memória jamais esquece uma decepção. Se vou até ti, dá-me valor. Pois a poucos ofereço o que tenho. Se me dizes que está comigo, então estarei com você. Palavra é coisa séria para alguém como eu.
     Não gosto de jogos, mas sei brincar. Jamais pense que pode me enganar. Eu posso parecer um menino a ti, mas você me vê exatamente como eu quero que me veja. E quando achar que está começando a me desvendar, te chamarei tola, pois vou muito mais fundo que qualquer um poderá chegar. Ser um leão não é para qualquer um. Não queira ser eu, se não estiver disposto a enfrentar o que eu enfrento. Sou sol, auto-suficiente. Me ilumino e me aqueço, sou independente. Se dependo de ti, é apenas por que quero. Pois se me desagradar, sua lembrança não será mais que isso. 
     Mas a quem me deseja o bem, recebo de bom grado. Te darei riso e alegrias. Dividirei contigo meu pão, e estarei contigo em todas as tormentas. Orbite ao meu redor, mas tome cuidado. O fogo aquece, mas também queima. Se fizer tudo certo, mesmo o queimar, será prazer. Eu sou eu, então seja você. 
Sou leonino, prazer em conhecer.

- Adolfo Rodrigues
Dentre os leoninos que conheço há um que se destaca. E hoje ele completa mais um ano de existência. Para meu amigo, meu presente mais verdadeiro. Minha palavras. Feliz aniversário, Mathews. Celebraremos juntos por longos anos, e em cada um, estaremos melhor que no anterior. Pois outros podem tentar, mas nunca serão como nós.


"Não tomara por estima o animal que na noite assassina..."

Ele sorri e me diz o que sente
Dentro dos olhos queima a chama ardente
Tem aquele que de menino
E aquele jeito felino

Ele não procura, caça
Expõe nas ações sua raça
É assinar a própria derrota
Querer impedir sua rota

E na noite em que o ferir
É que aprenderá o que é sentir
Pois nenhuma dor doerá mais
Do que a vingaça desse rapaz

O desejar é querer queimar
No abismo se jogar
Pois do sentir ele conhece
Será que o você o merece?

A metade não o serve de nada
Seus pensamentos, mente desorganizada
Está dois passos à sua frente
Sim, ele é mais que diferente

Enfrente-o e baterá contra a muralha
Ele não desiste sem batalha
Mas pela pessoa certa há de mostrar
O que a casca grossa insiste em ocultar

E a justiça será feita
Então te digo, o respeita!
E assim pode se acomodar
Para a vitória dele presenciar

- Adolfo Rodrigues
Dedicado especialmente ao meu amigo Mathews Ferreira.

Percebi que quando nos unimos somos infinitos, e fico feliz em ver que temos usado esse infinito para semear amor, para cantar a paz. O mundo parece estar de cabeça pra baixo, e precisamos ser pontos de luz, precisamos ser reflexo do amor onde quer que formos, sem ser taxados de qualquer rótulo, sem julgar as escolhas dos outros, apenas ser amor, apenas amar, na nossa escola, no nosso trabalho, faculdade, nos grupos do whats, em casa, enfim, em todos os lugares precisamos ser luz. O mundo já tem juízes demais, optemos pelo amor, deixemos o julgamento pra Aquele que é o próprio amor, mas que nunca esquece de ser sempre um oceano de misericórdia.
O caminho da arte, por exemplo, é árduo, mas é o tipo de coisa que a gente não escolhe: somos escolhidos! Simplesmente acontece, e quando você percebe já está irremediavelmente ligado a isso, é como se isso o ajudasse a se manter de pé, vivo e em sã consciência. Não adianta, eu até já cogitei abandonar a música da minha vida, como se isso fosse possível, mas vi que não era, pois só podemos escolher quando há escolha, e nesse caso não é, fui escolhida, não escolhi. De qualquer maneira, meu coração transborda gratidão por ter sido escolhida, mas não é exatamente isso que vim falar com vocês, hoje eu quero falar sobre união, sobre gratidão, e mostrar que somos infinitos quando juntos!
Todos veem uma banda tocar no palco, acham legal, curtem o som, aplaudem e seguem para as suas casas, depois de terem tido momentos legais com a família e os amigos, curtindo o show ou o que quer que seja. Mas pra nós que estamos no palco, aquilo é perene, é nossa vida que pulsa naquele espaço, é nossa missão estar ali, e não é fácil. Temos que abdicar de muitas coisas para seguir esse sonho. Enquanto muitos estão curtindo uma noite de sábado com os amigos, namorados, família, nós estamos carregando aparelhos e montando instrumentos para tocar. Enquanto aos domingos muitos curtem preguiça e descansam da jornada semanal de trabalho, nós ensaiamos, a noite quando temos tempo estamos estudando, escrevendo, compondo, ensaiando mais uma vez. Viramos noites ensaiando e compondo as música.
Muitas vezes a gente olha e acha que chegou ao fim, que não dá mais pra continuar, que é pesado demais, que ninguém está conosco e que estamos perdendo o tempo com algo que é imprevisível, e que provavelmente não chegará a lugar algum, e é bem aí, nessa hora do deserto em que Deus nos lembra algumas coisas importantes, e que eu por ter memória fraca desde sempre, adquiri o hábito de escrever pra não esquecer. Coisas importantes como o amor, o amor dos que correm conosco, das pessoas que realmente nos apoiam e torcem sem esperar nada em troca.
A sound.FÉ é uma ferramenta que me ensina sempre e me mostra que eu não estou sozinha, que tenho pessoas que me amam e torcem por nós, esclarece também vez ou outra que algumas pessoas não estão realmente correndo do meu lado, e isso dói, mas abre os olhos, no fim as surpresas são muito mais felizes que tristes e a gente segue.
Esses dias têm sido bastante intensos, finalizamos o nosso primeiro CD “Som, poesia e movimento” mas a demora nas edições tem me feito questionar o quão assertivas foram minhas escolhas, e aí rolaram as votações online dos festivais Hallel e Canta Jardim, e o que chegou até nós foi uma chuva de amor tão intensa e honesta da parte de tanta gente que me deixa sem palavras para agradecer. Vocês se mobilizaram, marcaram, compartilharam, enviaram nossa mensagem de amor às pessoas que conhecem, fizeram campanha de maneira tão natural, que eu senti como se o Amor me respondesse a muitas das perguntas que em momentos de deserto eu havia feito, e eu só posso agradecer.
 Vamos nos unir pra espalhar a mensagem do amor, usar essa força poderosa que nos faz infinitos pra fazer a diferença no mundo. Essa é a proposta que a Sound.FÉ tem: semear amor e cantar a paz! E mesmo que a gente não ganhe os festivais, mesmo que não passemos do primeiro CD, ou que acabemos amanhã, hoje eu vi que estamos cumprindo essa proposta, pois recebemos aquilo que emitimos, e vocês tem nos amado tanto, que nem dá para agradecer. Já ganhamos o amor de vocês e isso não tem preço!
Obrigada e que onde quer que formos sejamos lembrados segundo o amor, e que sejamos reconhecidos por esse amor, pela paz que sentimos e semeamos por aí.

Débora Kelly

imagem: weheartit.com

Não foi você que me trouxe, eu já estava aqui. Eu estava aqui antes de você chegar. Na verdade, tenho estado aqui há um tempo. Foram várias escolhas, vários tropeços e até alguns acertos que me trouxeram aqui. Não tem muito a ver com você. Acho que não tem nada a ver com você, pode acreditar. E, justamente por não ter sido você o causador do caos, não acho justo você, por isso, pagar. Parece loucura, então, vou explicar.
Eu vou continuar aqui, não sei quanto tempo essa estagnação vai durar e eu não posso te pedir para ficar. Esse sorriso tímido que você provoca em mim, e que tanto te encanta, ele não vai evoluir. Eu sei que parece que vai, né? Mas não vai. Não agora. Eu sei disso porque eu também já criei essa fantasia, afinal, eu me vejo todos os dias. Em alguns desses dias, ao olhar meu reflexo no espelho, achei que esse mau tempo passaria e que eu, como o Sol, sorriria. Mas não passou, meu bem. As nuvens ainda estão por aqui e eu ainda estou nublada. Também sei que, vez ou outra, parece que meu sorriso vai finalmente eclodir e vai ser o raio de Sol que era antes. Ah é, você ainda nem sabe: meu sorriso costumava ser um raio de Sol. Mas isso foi antes. Meu sorriso era um raio de Sol quando eu estava inteira.
Agora me vejo como uma daqueles aparelhos de TV dos anos 90 , que, depois de um tempo funcionando perfeitamente, começava a dar defeito. E aí não tinha choro nem vela, era esperar. Uns batiam, outros acariciavam e nada da TV voltar a funcionar: tínhamos que esperar. Passava-se por um lapso e, então, um belo dia, ela voltava a funcionar. Talvez, não funcionasse da mesma forma como funcionava antes: descobríamos, vez ou outra, uma cor nova enquanto perdia-se outra. Mas voltava. Sempre voltava. E o tempo é que se encarregava de consertar. Mão humana, por mais amorosa que seja, não tem poder de reparo imediato. Estou em um lapso agora mesmo. É claro, já estive mais longe de voltar mas, admito, não é agora que vou voltar a funcionar. 
imagem: google

O que acontece é que, nesse tal antes, eu apostei alto e perdi. Sim, eu me reergui, mas ainda não posso sair daqui. E você, que agora já me julga interessante, acredite se quiser, mas eu costumava ser descomedidamente viva: ria muito, falava mais, especulava menos e enfrentava mais. Enfrentava o mundo, enfrentei o mundo. Mas agora, nesse exato momento, não  posso fazê-lo porque estou enfrentando a mim mesma. Uma batalha calma e silenciosa que tem me ensinado a dar um passo de cada vez e, ocasionalmente, recuar. Uma batalha que tem me mostrado o caminho para me conhecer e reconhecer, nesses pequenos sorrisos, a tempestade de alegria que eu costumava ser - e serei. Sei que serei, novamente, o raio de Sol, a TV em cores que costumava ser, aliás, serei ainda mais colorida. Sei que voltarei a cogitar, imaginar, construir e funcionar. Sei - e sinto - que meu coração vai ser ainda mais impulsivo e impetuoso. Sei de tudo isso porque eu, agora, me conheço. E, por me conhecer, sei que algum tempo vai levar e eu não te peço - e nem aconselho -  a esperar. 


Com amor, 
Ane Karoline

"Com o silêncio de uma era, observava a janela, procurando só por ela..."

     Hoje o sol refletiu a luz nos meus olhos, enquanto fazia o caminho cotidiano em direção ao trabalho. Sim, a luz do sol bateu em uma janela, refletiu em meus olhos e me fez refletir. Refletir que, assim como o efeito daquela luz, somos apenas reflexos. Reflexos do que já fomos, do que somos e do que ainda seremos. Existências infinitas, únicas e efêmeras, que seguem flutuando como grãos de poeira em um universo que sequer conseguimos dimensionar.
     Sou o reflexo das atitudes que tomei - e das que não tomei - assim como o reflexo de quem já fui. Sou o que resta de sonhos que se apagaram como estrelas, que morreram nos céus, em exuberante supernova, deixando o rastro de sua luz para nós. Sou as ruínas de uma construção cambaleante, que se adapta às marés da vida, que me atingem como o oceano revolto contra as rochas do penhasco, levando um pouco de mim a cada vez que me acertam.
     Sou o eco reverberado dos gritos que engoli e das emoções que impedi que saíssem. Sou o jardim das decepções que foram formadas das expectativas que plantei, e que padeceram perante meus olhos infantis. Sou as cachoeiras das lágrimas que guardei, e que brotaram manancial dentro do meu peito. Sou geleiras de tristezas, que sobem em padrões intrincados e complexos, de acordo com as dores que me açoitaram.
     Sou vento de tempestade, de revolta e de pecado. Que ruge e esmaga o que há pela frente, moldando-me a cada obstáculo e afundando o que estiver no meu caminho. Sou erva daninha, era venenosa, plantando a auto-depreciação e regando minhas inseguranças com meu próprio sofrer. Espinhos formados de palavras que não proferi. Sou talo de rosa espinhosa, marcada pelas mágoas e rancores guardados e apertados com tanta força que marcam as palmas das minhas mãos com as cicatrizes de tentativas vãs de amar por dois.
   E de todas as certezas que tenho, a única coisa que ainda me impede de me afogar em mim mesmo é o egoísmo de não permitir que minhas próprias dores me sobreponham. É o orgulho tolo e vão de quem quer aparentar estar bem, apenas para não dar aos demônios de seu interior o gostinho doce de o sobrepujar. Apenas para ganhar o jogo contra as vozes que gritam dentro de mim. Por que eu não nasci para perder, nem para mim mesmo.
 Adolfo Rodrigues



Você baixou minha guarda. Com esses olhos intensos e essa risada idiota. É engraçado, não é? É engraçado como nós conseguimos encontrar a felicidade em lugares estranhos. Eu estava tentando ser, apenas existir, me encontrar novamente, me recuperar de um rompimento. Eu estava tentando ser egoísta, focada, determinada. Eu estava cumprindo minha rotina religiosamente, encontrando paz na simplicidade, encontrando graça nas pessoas ao meu redor.
Eu consegui encontrar a felicidade cantando músicas sertanejas no semáforo, compartilhando cheeseburgers e batatas fritas com meus melhores amigos e observando as estrelas em silêncio. Eu, finalmente, aprendi que amor não é unicamente centrado em uma pessoa e não é feito de uma única sensação. O amor é transitivo: pessoas, lugares, memórias. Finalmente, entendi tudo isso.

"Sonhar, com os pés no chão, te faz voar, ir além. Não desista, sorria e acredite: 
o melhor sempre está por vir."


Eu tenho um sonho. Eu mesma- não estou, apenas, citando Martin Luter King. E eu sei que todo mundo também tem. Você, que está me lendo agora, também tem um. Muito provavelmente você, assim como eu, tem mais de um sonho: tem vários. E, para ser sincera, espero que tenha mesmo: os sonhos são chamas dentro de nós, nos mantém caminhando. Mas, agora, falando especificamente do meu sonho, do sonho ao qual me referi no início do texto, devo dizer que ele, provavelmente, é o maior de todos: é maior que eu. Eu tenho o sonho de levar amor ao próximo, de levar amor a todos os próximos: ao mundo. 
Carregando esse sonho dentro de mim, sou, vez ou outra, surpreendida pelo amor que mora dentro de outros corações - e que me encontram. Mas, o amor sobre o qual quero falar hoje foi muito além de me surpreender: me arrebatou. Me deu aquele golpe suave no coração, me deixando 1 segundo sem ar para, em seguida, me conquistar. Conseguiu me cativar por ir de encontro com o meu sonho: de tão genuíno não coube nos corações dos que, primeiramente, o sentiram: transbordou e se derramou  em versos, notas, acordes e arranjos tão harmônicos que me fizeram perceber que ainda temos a chance de amarmo-nos mutuamente, sem deixar de lado a nossa singularidade. 

Esse amor, que tanto me encantou, tem um nome (aliás, a junção de cinco nomes que se tornaram um): Sound.Fé. A banda que nasceu do amor e para o amor - se me permitem a ousadia de dizê-lo - surgiu de uma missão em comum que havia sido entregue aos membros da banda -juntos, participaram, em 2012, de encontro de Jovens da Igreja Católica (Segue-me) -  e, lá, conheceram-se. E assim, como disse a vocalista Débora Kelly, "A partir de então surgiu o desejo de montar uma banda, definir um caminho e trilhar"



imagem por: weheartit.com

É uma correria desenfreada. Sem nenhum motivo aparente - além da urgência de estar em movimento constante. Com as crianças é sempre assim, é a correria a qual me refiro. A gente - essa gente que já passou da fase da urgência - nós estamos sempre freando as crianças. Aliás, mais que freando: estamos parando-as. Afinal, quem corre tem grandes chances de cair, né? Esfolar os joelhos, as mãos, o rosto e, quem sabe, perder um dente ou dois. Mas morrer não. Então por que deixar de correr? Ou melhor, por que impedir que os outros corram?
Eu já caí, já me atirei e já levei rasteiras tão violentas que achei que jamais fosse me reerguer novamente. Já fui arremessada de grandes alturas, enquanto sonhava mais alto do que queriam que eu sonhasse. Já tropecei em minha ânsia de querer resolver tudo. Já fui vencida pelo peso de tentar carregar o mundo nas costas. Mas derrotada nunca. Mesmo, várias vezes, tendo sido arrastada para longe de onde queria estar. Mesmo tendo sido devastada, mesmo tendo chorado todas as minhas lágrimas e, por vezes, tendo dito que jamais voltaria a tentar. Mesmo tendo desistido. Nunca fui derrotada: sempre existe uma chama, uma luz, um vaga-lume, que seja, para me fazer atenuar o meu desespero e insistir em prosseguir.


"De todas as noites de solidão, a pior foi a que eu dormi ao seu lado..."

Corpo teu 
Que está ligado ao meu
Corpo que escaldante é
Efervescido 
Retira-me suor e suspiros 

Corpo teu
Onde foi que te meteu?
Que em momento prazeroso
Fez de mim o mais ressaltado
E no amanhecer latente,sou mero falho escravo

Corpo teu
Beldade mais bela nunca aconteceu
De um ventre quente, receptivo 
Jamais poderá nascer beleza 
Beleza como essa, que Deus lhe concebeu

Corpo teu 
Viciado, tua droga me venceu 
Curvas tentadoras, em que até a morte se perdeu
Abstinência tenho desse corpo que de prazeres me encheu
Mas agora, nova droga encontrei
Chama-se amor 
Diferente do que você me deu
Corpo teu....

 Pedro H. Campos


Uma nova contribuição do Pedro, que passou por aqui pra deixar suas palavras. Se quiser saber mais sobre esse jovem autor basta clicar aqui. Esperamos novas contribuições! Obrigado, Pedro.

"As cicatrizes no meu corpo são um mapa para o meu coração..."

O demônio dentro de mim
Olhos e punhos fechados
Ando calado
Imaginando você andando ao meu lado
Mas quando os olhos abro
Percebo novamente que não esta aqui
Então ele vem e toma conta de mim
Não gosto muito dele
Não somos inimigos 
As vezes somos até amigos
Em horas difíceis ele pode ate me ajudar
Mas muitas vezes já me fez chorar!
Já afastou pessoas de mim
E me garantiu que era melhor assim
Diz que meu destino é a solidão 
E que não adianta eu dizer não 
Já machucou quem eu amo
Os fez chorar e até me odiar
Tudo em meu nome
Sem que eu ao menos pudesse opinar!
Ele cria um vazio dentro de mim
E espera que eu viva assim
Ele me leva a um abismo
Frio e completamente vazio
E em noites frias e solitárias 
Adivinha quem aparece pra me ajudar?
Meu demônio com ideias "boas" que sempre promete nunca me abandonar
Então me sinto perdido e sem pra onde andar
Mas meu anjo é mais forte
E sempre vem me salvar
Olho nos teus olhos e ele promete de mim sempre cuidar
Nela sei que posso confiar
Eu dou a ela minha mão 
E ela me tira de toda esta escuridão

Gabriel Oliveira

Mais uma contribuição do Gabriel para o blog. Dessa vez ele nos mostrou um pouco mais de sua habilidade com as palavras. Continue crescendo, Gabriel! Você pode encontrar ele clicando aqui. Suas contribuições são sempre bem vindas.

“Eu sou um ser humano singular, que adora compor com outros seres humanos para torna-se plural;" 
Foi assim que a escritora, cantora, atriz e criadora do Re(arte)culando se definiu, na última quinta-feira (30). Hoje, quatro de Julho, ela completa sua vigésima primeira primavera. E como forma de agradecimento por cada poesia que a senhorita carisma compartilha conosco diariamente, hoje queremos dar palavras de presentes à ela. 
É difícil escrever algo a altura da nossa escritora preferida, mas queremos começar dizendo que, como você mesma se traduziu dia desses, você compõe, e o faz com maestria. Talvez nós nunca seremos capazes de entender como você transforma as palavras em poesia e dá de presente as pessoas, sem esperar nada em troca. Aliás, você faz tudo sem esperar nada em troca. Você compõe uma canção e entrega para outra pessoa dançar no seu lugar; escreve uma poesia para que outras pessoas se identifiquem e entendam que não estão sozinhas; se isso não te mostra o quão importante você é, espere! Mostraremos quem é você: uma escritora sob os nossos olhos. 
Intensa, parece que carrega em si o peso do mundo. Com você não há meio termo e, por isso, sofre com a mornidão das pessoas que não sabem se colocar no lugar do outro. Uma cabeça que não para de pensar; que dorme, sonha e acorda sempre disposta a tornar o mundo um lugar melhor. É poesia que compõe sem parar. Ansiosa, está sempre um passo a nossa frente disposta a se jogar sem medo de proteger quem ama -disposta a se jogar. 
Parece que algumas pessoas foram premiadas com a profundidade do infinito, e você foi uma elas. A gente sempre se pergunta se isso é uma benção ou não, pois faz de nós pessoas que se importam demais, pensam demais, amam demais, humanas demais. Faz de nós pessoas. Por isso, no fim das contas, chegamos sempre a mesma conclusão: é benção! Se pudéssemos escolher o raso ou o infinito, certamente escolheríamos nascer do jeitinho que somos e fazer parte do grupo que sente tudo demais. Isso é o que te faz tão singular. 
Queremos dizer que somos gratos pela tua vida, pela tua poesia, por todos os significados que tuas palavras trouxeram, trazem e trarão; por escrever e permitir que leiamos; por não desistir de ser melhor. Queremos também pedir que continue caminhando, insistindo nas pessoas, nos fazendo ver o melhor em tudo e em todos, acreditando no amor, na educação, na humanidade e, principalmente, que acredite em si mesma e na força que existe aí dentro. Da nossa parte fica o compromisso de ser e estar. Amamos você! 
Texto por: Ane Kelly, Débora Kelly


   O dia estava nublado, com um vento frio a despertar calafrios. Os corpos dos três homens eram engolidos pelas chamas em frente à igreja de pedra do vilarejo. A multidão, com pedras e paus nas mãos, incitava as labaredas em sua dança mortal.
Ester correu o mais rápido que uma mulher de 62 anos, com as pernas inchadas pelas varizes, poderia correr. Ela conseguiu chegar à porta da casa, que ficava na estrada que seguia até o vilarejo.
- Os homens! – gritou Ester, a voz rouca e fatigante. – Os homens!
As outras três mulheres dentro da casa olharam a imagem da matriarca em desespero e não tiveram muita reação se não se assustarem com os gestos de Ester.
   Quando estava prestas a abrir a boca para enxotar mais palavras, a ponta de uma estaca de madeira brotou de seu peito. A preocupação no olhar das outras mulheres deu lugar ao medo. Homens com tochas, paus, pedras, inchadas e garfos abriram caminho por cima do corpo ensanguentado da velha, que ainda se debatia no chão de madeira rústica. Eles agarraram as mulheres e começaram a bater nelas com as mãos e pedaços de madeira. Quebraram tudo o que viram pelo caminho; a mobília, os utensílios, vasos de planta e ornamentos.
   Um dos homens lançou um lampião contra a mobília e o óleo fez o fogo se espalhar rapidamente por toda a parte.
Helena vinha da floresta com uma cesta cheia de folhas e ervas para preparar chá e produzir fragrâncias. De longe, ela ouviu os estalos provocados pelo fogo na madeira. Quando estreitou a vista, percebeu a casa de dois andares, construída por seu pai e seu tio, sendo consumida por labaredas vermelhas e expelindo uma fumaça negra para o alto.
   Ela largou a cesta que trazia e começou a correr em direção ao horror diante de si. Quando se aproximou da casa, começou a gritar em desespero o nome de sua mãe, o da tia e o de sua prima. Também chamou pelo nome do pai, do tio e do irmão mais velho.
   Antes que pudesse continuar, uma mão grossa e áspera tapou sua boca e um braço forte a agarrou pela cintura, afastando-a daquele cenário.
   Sarah, a mais jovem da família, foi brutalmente morta ao ser arrastada pelos cabelos durante o caminho até a praça do vilarejo. Sua mãe e sua tia tiveram as roupas rasgadas e foram levadas por uma multidão enfurecida ao local onde os corpos dos três homens não ardiam mais.
   Com uma mão grande impedindo sua boca de soltar um grito, Helena olhava nos olhos daquele homem rústico de cabelo e barba engrenhados.
- Não lhe farei nenhum mal – disse o homem. – Promete não gritar se eu soltar a sua boca?
   A garota assentiu com a cabeça, tranquilizada pela voz calma do homem.
- Seu pai me enviou, Helena, para lhe proteger.
- Quem é você? – perguntou Helena, ainda receosa.
- Meu nome é Nicolaj Ulrich. Sou amigo de seu pai desde que cruzávamos os mares em busca de riquezas. Estava passando por perto, então resolvi ver como estava meu velho amigo. Para a minha desgraça e a de seu pai, encontrei-o pouco antes de o terem levado para ser julgado.
- Como sabia onde eu estava, Sr. Ulrich?
- Seu pai me disse que estaria na floresta como costuma fazer todas as manhãs. Infelizmente, cheguei tarde demais para proteger sua família daquele grupo de fanáticos.
- Minha mãe! Minha prima e minha tia! O que vai acontecer a elas?
- Temo que não possa fazer nada por elas, Helena. Desculpe.
   As lágrimas vieram junto com a dor de quem sofre com a ignorância e intolerância dos homens.
- Vamos, Helena! Preciso lhe tirar deste lugar, para isso temos que voltar ao vilarejo onde está minha carroça.
    Nicolaj entregou à garota sua capa com capuz para que ela pudesse ficar longe dos olhares inquisidores. Então seguiram a pé a estrada de terra que daria em um aglomerado de casinhas de madeira, estalagens para viajantes e tavernas.
   A carroça de Nicolaj com cobertura de lona estava em frente à estalagem local. Ele era um caixeiro viajante que vivia de cidade em cidade comercializando seus artigos e procurando por novos.
   Helena permaneceu debaixo da lona amarelada que cobria a carroça e protegia os produtos negociados por Nicolaj, enquanto ele foi buscar os cavalos para poderem partir.
Uma agitação na praça chamou a atenção de Helena.
   Ela espiou por um pequeno buraco na lona o que estava acontecendo ali perto. Sua mãe, Martha, e sua tia, Abigail, estavam sendo levadas até o alto da escadaria da igreja de pedra por um grupo hostil de homens.
   Uma multidão agitava as mãos no ar, gritando “morte”, “morte às bruxas”.
   Martha e Abigail foram colocadas, com as mãos atadas para trás, sobre bancos de madeira. Do alto viam duas cordas com uma forca trançada.
   Um homem que carregava uma bíblia preta nas mãos pediu silêncio para a multidão, então começou a falar:
- Vemos aqui duas esposas de Satã tomadas por espíritos que as fizeram, também, corromper seus bons homens. Para eles, que tiveram seus corpos purificados pelo fogo, Deus será misericordioso e salvará suas almas. Elas, que abraçaram a fé pagã de demônios e de falsos deuses, a sentença levará suas almas para o poço profundo dos pecadores para sofrerem por seus atos contra Deus.
   O homem abriu a bíblia e passou a recitar trechos em latim. A corda foi amarrada em volta do pescoço das duas mulheres e a multidão começou a jogar paus e pedras em direção aos seus corpos.      Dois homens se aproximaram por trás e, quando o sacerdote terminou de recitar e fechou a bíblia, eles chutaram os bancos sobre os quais estavam Martha e Abigail.
   Helena quase perdeu os sentidos quando viu o pescoço de sua mãe quebrar quando seu corpo despencou. Sua tia ainda se debateu por alguns segundos até que seu sopro de vida também a deixou.
- O fogo queima os pecados – disse o sacerdote, com uma tocha na mão.
   A chama pareceu congelar, os sons desapareceram. Helena não sentia frio nem calor. O tempo havia parado de repente, ela era a única acordada.
- Menina! – soou uma voz doce.
   Helena se virou bruscamente para olhar na direção da voz.
- Quem é você? – disse Helena para a velha que entrara debaixo da lona da carroça.
- Sou apenas um mensageiro.
- O que você quer? – Helena espiou o lado de fora e viu Nicolaj congelado no tempo com seus dois cavalos. – O que está acontecendo?
- A mensagem que trago é simples: você é o espírito profetizado. A herdeira das eras que trará o equilíbrio ao mundo.
   Helena continuava sem compreender, a confusão assolava sua mente.
- Eu não entendo! Por que isso está acontecendo? – As lágrimas começavam a brotar dos olhos e escorrer pelas curvas do rosto.
- A natureza trabalha de forma sábia, menina. Tudo o que está acontecendo não é obra do acaso.    Mesmo a presença do cacheiro amigo de seu pai não é coincidência, ele foi escolhido para ser seu protetor, mesmo que não saiba disso.
- Por quê? – questionou Helena em prantos.
- Não chore, Helena. Sua tarefa neste mundo é grande. Você é a criança prometida; a filha de Pandora que trará paz aos planos desta terra. A natureza a guiará e irá lhe inspirar nos momentos certos para que você possa reunir os instrumentos necessários à sua jornada.
   A velha estendeu a mão. Quando Helena a tocou, o mundo pareceu ser sacodido e o tempo andou novamente.
   A velha desapareceu.
- Vamos, Helena – disse Nicolaj. – É hora de partirmos.
   Na praça, os corpos de sua mãe e tia queimavam enquanto a carroça se distanciava mais.
   Quando saíram do vilarejo, Helena sentou-se ao lado de seu protetor na frente da carroça. Eles se aproximaram da casa, que agora era um entulho de madeira queimada. A garota ouviu um assobio provocado pelo vento em seu ouvido, então algo lhe chamou a lembrança.
   Ela pediu para Nicolaj parar a carroça ali onde estavam. Ela começou a caminhar entre os destroços de seu antigo lar. Debaixo de uma porta queimada pelas chamas, ela viu a ponta de um livro azul intocado pelo fogo.
- O que é isso, Helena? – perguntou Nicolaj, vendo que a garota trazia algo nas mãos.
- Este é o Livro das Sombras de minha família. Ele contém os segredos dos séculos.
- O que pretende fazer com ele?
- Vou usá-lo em minha jornada.

Fernando F. Morais


   A colaboração de hoje é do Fernando, um jovem autor com ideias revolucionárias e uma forma de ver o mundo bem pessoal. Ele possui outros contos, tão bons quanto o acima, e esperamos que continue a colaborar conosco. Para entrar em contato com ele você pode clicar aqui para localizá-lo no Facebook. Obrigado pela contribuição Fernando!