Estou me matando. 

Essa foi uma das últimas mensagens que te enviei. E, realmente, estava. Todos os dias e cada dia um pouquinho mais. Me matando estava eu,  em cada segundo que perdia, esperando você parecer. Me matava em cada opinião que deixei de dar, para evitar uma discussão. Me matava em cada vez que sorria das piadas que você fazia de mim, cada vez que te via zombar dos meus sonhos, para não te deixar sem graça. Me matava todas as vezes em que aceitava seus meio sorrisos e seus desaparecimentos inexplicáveis. Me matava, ainda mais, quando te aceitava de volta, surgindo, como se nada tivesse acontecido, perguntando sobre uma coisa qualquer para puxar assunto. Me matava por permitir que você sempre me resgatasse de volta - sem nenhuma intenção de me amar, só para ter certeza que eu ainda estava ali: à mercê de você. Me matava por acreditar que estava fazendo algo por nós quando, na verdade, estava fazendo por você. Me matava por acreditar que isso era amor. Não era.

Mas sobrevivi. É que -  ao contrário do que pode ter parecido - aquela última mensagem não era uma carta de suicídio, era uma carta de alforria. Percebi que estava me matando, aliás, deixando que você me guiasse para que eu me matasse, me enlouquecendo. Afinal, nenhum esforço era suficiente, nenhum dos quatro idiomas, nem as frações, nem os poemas, nem o gráfico da função, nenhum estratagema. Nada. Percebi que estava me matando por nada: nada que eu fizesse seria suficiente para colocar algum sentimento nesse nada que você sentia por mim. Digo algum sentimento porque, agora, estou certa de que o que eu sentia não era mais amor. Nesse ponto, quando você já me tratava como louca, não era mais amor. Pode ter sido, lá no começo, quando você me emprestou seu casaco pela primeira vez. Pode ter sido quando eu ficava super feliz ao ver você tentando cantar, todo atrapalhado. Ali era amor: me dava vida, me animava, recarregava minhas baterias. E, mesmo que eu tivesse que atravessar a cidade para te ver, isso não me sugava: me alimentava. Não me matava, me libertava. Pena que, logo depois, acabei ficando presa pelas suas mentiras e pela minha vontade, incessante de fazer dar certo. E o amor, que é característico da liberdade, não ficou presente para me ver sendo encurralada. Acabou.

Não sei mais se existia amor de sua parte. Nunca soube. O que, no começo, caracterizou a genuinidade do meu amor: nem precisava da reciprocidade para existir. Depois, esse não saber, caracterizou meu desamor: a busca desesperada por essa certeza. Me matava aos pouquinhos, cada dia mais. Me enlouquecia, me torturava, tirava meu sono e me devastava. Morri de amor. Mas, cariño, é uma delícia morrer de amor e continuar vivendo. Renasce. Floresce. Faz a gente perceber que amor, de verdade, não machuca, não consome, não humilha, não mata e não destrói. E, comigo, foi assim: te queria um bem danado, mas estava me matando, então, fui lá e me libertei. Essa foi a última mensagem que te enviei. 


Texto sugerido por Beatriz Emily e escrito com o amor de sempre por mim, 
Ane Karoline,



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