Outro dia me meti em um labirinto mais complicado que a caverna do dragão: cuidar de uma criançada para liberar a família. Todo mundo sabe como é o rebuliço de ter criança em casa. Pode ser só por um dia, uma hora, ou uma vida. Criança é aquela coisa, né? Um furacãozinho desenfreado ambulante. Uma perguntação infinita, uma insistência quase azucrinante, tira a gente do eixo. Instabilidade, inconsistência, gritaria:  Ô TIA!  

Foi loucura: uma brigaiada sem fim. Bastava uma chamada: calma, galera. Eles mesmos se organizavam. Comecei a observar: agora é a vez de quem? Não, não, você já foi. Vamos todos juntos, então? E foram. Corriam para um lado, para o outro, de repente: Ô TIA! Lá ia eu. Me ouviam e pediam minha opinião. Brinca com a gente, tia. Lá fui eu. Sentamos no chão. Algum tempo depois, morrendo de rir, olhei ao redor: ninguém ali tinha dinheiro, nem interesses políticos, nem diplomas. Me misturei, me diverti, me perdi. Que loucura! Vivi ali.

Depois, como as crianças não eram minhas, acabou. Os pais foram chegando, se desculpando. Canseira, né? É. Disfarcei bem. Na verdade, estava revigorada. Deu tudo certo? Deu. Deus: vi Deus na pirralhada. Achei que tinha visto o suficiente até que a pequenininha veio:
- Ô tia, vamos brincar só mais uma vez? 
- Ô meu bem... Você não está cansada?
- Estou! Mas foi legal! Foi o dia mais legal de todos.  - ih, enchi o olho d'água
- Foi? Para mim também foi! E a gente só brincou, né?
- Tia! A gente não SÓ brincou! A gente teve as coisas mais legais da vida: brincadeiras, colegas, refrigerante e pipoca.
Não tinha o que discordar. Só completei com o que faltava para a lista: um abraço.

Alegríssima, Ane Karoline (texto sugerido pela Kamilla Costa)


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