Não foi por hoje. Quer dizer, foi sim. É claro que foi. Mas não foi "só" pelos 20 minutos de atraso. Mesmo sabendo que você sabe que eu odeio atraso, a gente tinha feito um trato, até onde me lembro. E você, mais uma vez, o ignorou. Ignorou um acordo no qual chegamos juntos. Mais uma vez. Na verdade, acho que foi isso: mais uma vez. E, dessa vez,  eu não quero mais explicações. Pelo que te ouvi dizer, um imprevisto aconteceu e ocasionou o seu atraso. Perdoável. Isoladamente perdoável. Mas, meu bem, não foi um caso isolado. Foi a gotinha que faltava para encher o copo. Encher o saco. Me encher. E eu, que estava equilibrando esse copo sozinha, tentando não deixá-lo cair, finalmente, transbordei.

O que acontece é que cada um dos pequenos gestos cometidos sem consideração,  fizeram com que eu, não só quisesse, mas tivesse que abrir mão. Cada mentirinha, cada troca, cada afronta, cada deslealdade, cada irreverência, cada desaforo e cada desprezo me fizeram perceber que confiança precisa ser regada para crescer. E eu, sempre cheia de energia, regava esse jardim com as explicações e os pretextos que você me oferecia, me esforçava tanto que florescia. Descobri essa forma de sustento sozinha. E foi durante os 20 minutos te esperando que me lembrei do teatro - no qual você nunca confiou. No teatro a gente não pode atrasar. Quem atrasa, não é digno de estar lá. E é assim que a gente vai aprendendo em quem confiar: construindo, através de merecimento. A confiança que eu te dei, sendo assim, não tinha razões para continuar. 

Então é isso, os 20 minutos, que você julgou como nada, como desimportantes, foram suficientes para me fazer acordar: quem quer confiança, tem que edificar. Se assim não for, não há razões para ficar. Agora, que já não empenho energia em o jardim da confiança mútua regar, tenho mais tempo, e espaço, para deixar que a confiança em mim mesma floresça. 

Confiante,  Ane Karoline (texto sugerido pelo Gabriel Souza)

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