imagemm: rearteculando


Ontem eu a vi. Distraída, precisei olhar duas vezes para vê-la. Mas, quando a vi, senti um leve soco no estômago. Depois a olhei com mais cuidado e a agonia no meu estômago foi se dissipando. Quer dizer, lá estava ela: sentada, com um livro na mão. Um livro, inclusive, que eu li há alguns meses. Parecia absorta e totalmente inofensiva. Parecia até simpática, quase frágil: com roupas em cores claras, como eu mesma costumava usar. Ela também estava distraída e não me viu. Quando deixou cair uma caneta, por estar distraída com o livro, tive o impulso de pegar a caneta para ela. Quis ajudá-la. Ri de mim e para mim mesma: eu estava querendo o bem de quem havia levado uma parte de mim. Ou, pelo menos, algo que eu achava ser uma parte de mim.

Olhar para ela, ali, tão pertinho de mim, sem aquele vestidinho mullet, com o qual a conheci,   me fez lembrar de como foi ouvir você dizer que a amava: da mesma forma que tinha me dito duas semanas antes. Vê-la ali, lendo um exemplar do livro que eu guardava na minha segunda prateleira, me fez lembrar de como eu me senti a primeira vez que vi vocês dois juntos, enquanto eu voltava sozinha para casa, em uma noite escura qualquer. Mas, além disso, vê-la ali me fez perceber que nunca, em nenhum momento, desejei qualquer coisa que pudesse ferir a você ou a ela. Quando, há muito tempo atrás, eu recebi esse golpe nas costas, eu só consegui pensar: agora serão felizes, sem que eu esteja aqui para atrapalhar. 

Segui. No início, quando via uma foto,  ouvia uma música, via um conhecido, ou via algo que me lembrasse você, ou vocês, eu só conseguia desejar que vocês fossem felizes e, de preferência, longe de mim. Quis que, como eu, vocês seguissem. Depois que a ferida se curou e eu comecei a lembrá-los só muito raramente - quando via algo em alguma rede social, ou os via - percebi que desejava era um bem danado para vocês. E cada dia o faço com mais força. 

Desejo que tenham, juntos, a felicidade que não pudemos - eu e você- ter. Desejo uma paz mais intensa do que a que eu tinha antes de que vocês a destruíssem. Desejo que você tenha com ela a paciência que não teve comigo. Desejo que pergunte à ela sobre os livros que ela lê e a escute com atenção. Desejo que se cuidem, mutuamente. Com isso tudo, só tenho ganhado. Tenho desejado o bem e ele me deseja também. Do lado de cá, quando tenho notícias suas, torço para que consiga alcançar o que quer, encontrar o que perdeu e ter o sucesso que você sempre quis. Do lado daí, sinto que você também deve ter percebido que não tem razão para me ferir, torce, também, por mim. 

Eu sei que pode parecer meio estranho ou forjado, mas estou dizendo isso para que você entenda que, para mim, a felicidade alheia é lucro. Quer dizer, enquanto a vejo ali, sentadinha, eu percebo que é  mais um ser humano com um sorriso bonito por quem eu, sinceramente, não consigo sentir nenhum tipo de aversão. Quis, inclusive, falar com ela sobre o tal livro. É que o amor não é capaz de desejar o mal. E eu amei você e você, por amá-la, estende à ela o afeto que tenho. Por mais que tenhamos nos ferido reciprocamente, eu amei você com todo o meu coração e quem ama, ou já amou, é incapaz de desejar o mal. 

Hoje quando vejo/ouço algum exemplo de antipatia, de crueldade, inveja ou maldade vindo de quem diz um dia ter amado, sei que o amor nunca existiu. Esse papinho de que quando o relacionamento - de qualquer espécie - acaba,  o bem querer acaba junto, é invenção de quem nunca soube amar verdadeiramente. O que acaba é a relação, o contato, a amizade, a paixão e até o amor. A gente pode até se cruzar por aí e nem lembrar. Mas malquerer, jamais. Onde já existiu amor, mesmo quando maltratado, mesmo quando acaba, não é um lugar fértil para ruindade. A malquerença, é fruto de um coração que demonstrou um sentimento falso. Quem é capaz de atirar pedras, é porque nunca apreciou. Se hoje te vejo sorrindo, seja com quem for, também feliz estou.


Com amor, 
Ane Karoline


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