O conselho que te deram está incompleto. Também me disseram que doía. Me disseram que eu não deveria me basear no que vi no cinema e nem no que li. Achei um exagero, um engano. Eu, que sempre insisti em ver o copo meio cheio, guardei os conselhos na gaveta e fui me aventurar. Me convenci de que esse tal pessimismo era coisa de gente que gosta de dramatizar: onde é que já se viu amor machucar? A coragem, pensei, não vai ser necessária, mas vou levar. 
Que jornada! Esqueceram de me dizer que é loucura. E que louca fui, agora vejo. Imprudente. Corajosa. Amor é coisa de gente que tem coragem. Desvairada me joguei nesse mar de amor que eu mesma criei e na falta de reciprocidade, desaguei em mim mesma. O amor, que permiti que em mim habitasse, se fez tão genuíno que já não esperava nada em troca, só esperava. Suportava. E, por um longo tempo, suportei com uma esperança inigualável, quase com prazer. Esperei que essa tempestade que sou tanto batesse no coração dele que furasse: abrisse espaço para o amor. 
Mais uma vez o falatório popular fracassou: não abri espaço nenhum em um coração sem ardor. Me afoguei em meu próprio amor e nas fantasias que criei -foram muitas. Mas a gente pode aprender o que quiser, não é mesmo? Aprendi a nadar até me encontrar. Foi um esforço imenso, eu acho que você não vai lembrar mas eu tinha medo. Não tenho mais. Nadei um oceano inteiro de desilusões, julgamentos, e frustrações. E dessa vez foi por mim. Perdi o fôlego várias vezes, meu corpo, infinitas vezes, fraquejou, quase morri. Mas foi por mim e, quando é assim, o cansaço é recompensado: renasci. 
Das dores que senti, a facada dos olhares que me diziam "eu te avisei" foi uma das maiores. Doeu, como me disseram que doeria. Foi diferente dos filmes porque o meu final feliz foi sozinha. Me avisaram mesmo, mas tem algo que não me disseram: como é bom amar! O jeito doce como a vida faz sentido, como o Sol brilha mais bonito e como os sentimentos são tão desmedidos. A gente cresce: tomba, cai, se machuca, se desconstrói e se reinventa. Uma companheira de batalha me contou: amar alguém só pode fazer bem, pelo menos a nós mesmos, quando ao outro não convém. 
Portanto, aqui vai: dói. Dói quando dá errado e quando dá certo também dói. Não parece em nada com os filmes: os nossos finais são muito mais criativos e a gente tem uma vida inteira para reinventá-los. Um amor mal sucedido não estraga a nossa vida para sempre. E, no fim das contas, vale a pena. Vale a pena porque, quando passa, prepara a gente para que vier: nos traz coragem e nos traz fé. 

Revigorada, Ane Karoline (o texto foi escrito pela sugestão de Jéssica Carvalho)

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