Em meio à tanta correria, desespero, pressa, desastre, medo, anseios, e frustrações, a gente vai perdendo algumas coisas; de tanto correr, a gente não chega a lugar algum. Eu mesma, percebi hoje, na véspera, que era Natal por ter ouvido a moça, no ônibus, conversar ao telefone: Meu bem, vamos deixar para conversar sobre isso quando estivermos mais calmos? Hoje não, é natal. Senti um choque, uma pontada do lado esquerdo do peito e um nó na garganta: me lembrei da luz diferente que sempre me contagiou em dezembro e que me fazia pensar: desespero, hoje não. 

Sempre foi assim, pelo menos para mim. Sempre, desde 1995, Dezembro tem uma coisa especial, uma coisa além de especial. Além das luzes, além das músicas, além dos gorros vermelhos, além das rabanadas, além das árvores, além das piadas, além dos risos e das lágrimas, além dos especiais do Mickey, além dos presentes e além dos ausentes. Uma coisa que, apesar dos abraços, parece quase intocável, quase impalpável, quase inventada, quase santa: uma sensação. 

Não vou negar a possibilidade de ser uma emoção causada pela comoção que ocorre quando se vive em um seio Cristão, como eu sempre vivi. Mas é uma emoção boa, é um impulso. Um impulso de fazer o que é bom, de agir com gentileza e de abraçar aquele amigo que sumiu. É uma disposição, não imposição, para agir com um pouco mais de suavidade e doçura; uma energia que paira e desacelera o coração. E, apesar do pesares, não tem como um temperamento assim ser ruim. 

Com pesar dos pesares, me refiro ao fato dessa gentileza durar apenas um dia, quando dura; me refiro ao fato de uns esbanjarem ceia farta, enquanto outros não podem comer; me refiro ao fato de que ter tem mais peso que ser; e me refiro, principalmente, à aversão por essa gentileza. Eu sei, é só por um dia. Mas dentre tantas tristezas, tanta violência e tanta hostilidade, eu opto por comemorar a inspiração de um dia de amor - ou da tentativa de agir com amor. Esse um dia, pra mim, parece uma esperança que de, em algum momento, possamos começar a agir assim por dois dias, uma semana, um mês, ou um ano. 

Pra mim, essa é a Santidade maior da Data: tentar, mais uma vez, amar e esperar o bem. Mesmo que no sofá da sala, ou na vala, esperar o melhor. Em nosso calendário Gregoriano, estamos, também, encerrando mais um ciclo, e o coração avisa: sobrevivemos até aqui. Para todos nós, fica o convite: vamos juntos? Eu aceito, convite de amor eu sempre aceito. Desesperança hoje não, é Natal. 

com amor, Ane Karoline

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