Eu nunca fui do tipo responsável, sempre na hora, organizada, sabe?! Estereótipo típico de mulherzinha. Minha mãe sempre brigava muito comigo, dizia que eu parecia mais um moleque com essa falta de cuidado toda. "Como vai arrumar um homem com esse desmazelo todo?" - ela sempre resmungava, preocupação de toda mãe naquela época, eu acho.

Era justamente de um momentos desses que estava me lembrando agora. Minha mente se inunda outra vez em pensamentos da infância, memórias doces, como as mangas que eu subia no pé para catar naquelas, já tão distantes, tardes de verão. Dizem que sua vida passa por inteiro diante dos seus olhos nesses momentos, sempre duvidei, até hoje. Como que acordando de um sono profundo, me liberto do meu devaneio de saudade e retorno à minha linha de pensamento: como sou inadequada pra essa situação! Ainda não posso crer na possibilidade, soa estranho em minha cabeça. Ansiedade, já é uma situação tão dura de se aguentar sem seu peso, sem sua mania de revirar meu estomago de cima abaixo, de me dar calafrios. Minha mente novamente é arrastada, dessa vez não pro que foi e culminou no que sou mas no que pode vir a ser, a situação abre então um portão em mim, um portão que eu não detinha a chave nem tampouco sabia de sua existência, uma nova camada da minha personalidade - onde todos esses sentimentos se esconderam por tanto tempo? Logo eu que achava me conhecer tão bem, logo eu que um dia, admito, desejei isso( mas que garota não desejou?), mas há muito tempo não o fazia. Ao contrário do que eu pensava, esse desejo não havia morrido, havia se enterrado, debaixo de pilhas de cinismo e fingimento, se cobria mais e mais a cada ano que entrava, e eu me via mais e mais longe de um dia estar nesse lugar que agora estou. Escondido, esse astuto desejo fez para si um palácio, onde passava dias a tricotar mais e mais desejos parentes seus, que agora corriam porta afora e me tomavam de assalto.

De repente já não me sinto mais tão inadequada para a situação, me sinto estranha, como se uma luz emanasse de dentro de mim enquanto vejo a tal linha aparecer, sinto meu estômago revirar, não é só a ansiedade, rio comigo mais um vez. Os três mais longos minutos da minha vida! A euforia se torna angústia, quero que tudo acabe logo, estou exausta emocionalmente, nem feliz nem triste só quero me deitar, as lágrimas involuntariamente brotam, tarde demais pra tentar pará-las, já estou soluçando, o medo me abraça, medo de quê? Medo de não sei, medo de nada, medo de tudo, a incerteza do que será no futuro faz isso em nós. O choro se torna resignação, como se não tivesse mais em mim forças nem pra chorar. Sou preenchida por uma paz cansada, suspiro olhando pro teto, outra linha apareceu enquanto eu andava nessa montanha russa de emoções. Surpresa? Nenhuma. Em algum momento dos três minutos eu já tinha alcançado a certeza. Levanto do chão do banheiro, confiante, resoluta e de alma lavada, sem nenhum motivo. Me sentindo pronta pra encarar de frente essa nova fase, uma mulher se levanta do chão onde minutos atrás se sentou uma menina. Em três minutos minha vida toda mudada. Alguém atende do outro lado do telefone, sem introdutórios digo a primeira vez em voz alta

– Mô? Tô grávida.
Marcus Carvalho

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