imagem: wehearit.com


Tem gente que leva rasteira da vida quando anda para frente, eu não, eu levo rasteira quando insisto em dar uns passos para trás. A última rasteira que levei foi antes mesmo de voltar, apenas me virei em direção à volta, me virei como quem está pronto para voltar e esquecer quaisquer contratempos e injúrias anteriores. Virada para trás, antes mesmo de dar um passo, percebi que, apesar de me chamar, você não queria que eu voltasse; queria apenas despertar em mim a vontade da volta. Você me quer como número, não como presença, quer que eu componha a pluralidade da sua vida, não a singularidade.  

Você quer números, provavelmente, porque quer aplausos. Não te condeno por isso não, pode se acalmar. Acho até normal, sabia? Acho comum. Gente querendo aplauso é o que mais tem, em tudo que é beira de esquina. O danado é que eu achei que você não fosse comum, achei que você queria mais que isso, achei que você almejasse admiração, não aplausos vazios. Não posso mentir, tenho que admitir, não posso negar que acabo te condenando de uma forma ou de outra. Mesmo sem direito algum para fazê-lo, mesmo agora, quando percebo que te conheço menos do que achei que conhecia, mesmo com todos os meus erros (e talvez por causa deles), acabo te condenando. Não te condeno para ninguém e nem diante de ninguém, não tenho tamanho poder e nem vontade, apenas reconheço a sentença quando olho para você: alguém que quer quantidade de companhia, não qualidade.

Eu poderia ficar aqui, de pé, por horas te aplaudindo - como já fiz, com muito gosto e amor. Mas isso não é o que você quer, né? Isso não te preencheria. Você quer multidões, quer uma massa de gente de que não te dá a mínima para te aplaudir. Você quer quantidade, quer casa cheia, quer gente com pedigree, gente com nome anunciado em rádios, gente com passaporte carimbado e delineador bem passado. Variedade, gente saindo e entrando, gente te dizendo maravilhas para, logo em seguida, te abandonar. Tudo bem. Eu espero que, sim, esses e essas daí te aplaudam mas que, também, estejam com você nas noites difíceis, nas noites apáticas e nas viradas de ano. 

Daqui, do meu lugar de quem existe irrisoriamente, torço para que não te faltem holofotes e palmas; já que as minhas eu resolvi recolher. Espero que esses aplausos vazios, te encham, te preencham. Teria gosto em aplaudir, com amor, tudo que viesse de você e, ainda hoje, não posso negar todas as maravilhas que você tem. Acontece que quando a alma deixa de fazer parte da produção de alguém, eu não sou mais capaz de apreciar; quando sinceridade passa a valer menos que imagem, eu não posso mais ficar. Podem descer as cortinas, rufar os tambores, pelo espetaculo das aparências você já pode receber as palmas, sem mim; eu sei a hora de sair de cena. 

Ane Karoline

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