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Tudo doía: as costas, as pernas, os joelhos, a cabeça. Por cima dos óculos, que insistiam em ficar escorregando pelo nariz, dei uma olhadela para o Leandro e ele parecia mais afadigado do que eu. Não quis comentar nada porque a ideia da caminhada de cinco quilômetros havia sido minha e eu não queria entrar naquela discussão de novo antes de conseguirmos alcançar o carro, mas ele irrompeu o silêncio antes.

- Minhas costas estão me matando, achei que essa história de caminhada fosse ajudar, não me matar.  – ele ficava meio roxo quando tentava, sem sucesso, se alongar.

- O pior é a dor nos joelhos, cara, eu estou quase pedindo carona até o nosso carro.

- Belo lugar você foi escolher, ein, matagal dos infernos, cheio de mosquito. Olha o jeito que estão meus braços – ele me mostrou e eu só acenei com a cabeça, não vi nada, estava precisando trocar os óculos.

- Agora falta menos de um quilômetro, não tarda e a gente chega lá. - não aguentava mais tanta reclamação, o Leandro fazia o tipo reclamão.

Concluímos o trajeto fazendo tantas paradas que se tivesse alguém mais ativo nos acompanhando, não teria tido paciência nenhuma. Resolvi quebrar o clima desconfortável, que nossa frustração havia criado, puxando assunto

- Quer jogar xadrez na praça amanhã de manhã? – ele me olhou incrédulo e irritado

- Você acha que vou precisar de quantos dias para me recuperar disso aqui? Vou passar alguns dias sem sair de casa, pode apostar.

- Mas jogar xadrez não exige tanto esforço assim. – tentei argumentar

- Cara, eu estou morto! Você tem quantos anos mesmo?

- Vinte e cinco.

- Ah! Explicado! Espere só chegar aos vinte e sete! – ele me olhou com o olhar da experiência e eu percebi que havia perdido a conversa.


com amor, 
Ane Karoline 
- texto do desafio de 24 textos em 24h

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