"A gente tenta preencher os corpos dessa fome de mundo, mas não existem fatos suficientes para cobrir a quantidade de espaços que se criam ao retirar de seu posto fixo uma profunda sensação. O espaço arde inicialmente, não aprendemos lá muito bem a lidar com vazios. O vento quente da cidade bate por dentro e espalha os últimos pedaços de carne que restavam. E assim, o vento frio e desaforado a céu aberto pode, enfim, entrar e derrubar, sem nenhum princípio, toda e qualquer antiga certeza. Faz-se silêncio. Acompanhado do firme barulho alvoroçado por toda a gente ao redor. Retoma-se o espaço, não como ponto preenchido, mas como firme vazio impenetrável por toda verdade controversa. Formam-se as primeiras palavras, trazidas pelo frescor das novas texturas e sensações. A palavra nova, assim como as primeiras sensações, tem um sabor tão forte que coloca as mais secas línguas a salivarem em cada pequeno pedaço de degustação. Entendido o vazio do espaço, formam-se raízes, mais firmes que qualquer velha e rasa sensação. O vento passa novamente, soprando por dentro, e enfim, há lugar para o suspiro assobiado. O tempo faz música a quem lhe reconhece."
Veracidade
"Não aprendemos lá muito bem a lidar com vazios",
É um livro muito simbólico. A palavra silêncio, a exemplo, tanto aparece no texto, quanto se faz presente quando lida, silêncio que grita: silêncio é necessário para respirar. A autora consegue criar uma atmosfera de convite à reflexão, sem jamais deixar de ser leve, doce, suave. É um livro que vem de encontro, não em contraste.
Tenho lido bastante nos últimos anos, lido de tudo, lidado com tudo, e poucas coisas me tocaram como Veracidade. Eu, como ser sensível, como ser criador, como ser humano, me senti atravessada pela afabilidade das palavras que li; me lembrei de Clarice Lispector, me lembrei de mim, lembrei do meu primeiro amor e dos amores que ainda sinto, me lembrei da humanidade inteira - algumas vezes a gente sente tanto e vive tão pouco. Por fim, concluí com Isabella que inquietude é coisa de gente e que "nem todos os pontos, nem todas as vontades e nem todos os amores, precisam virar conexão".
INFORMAÇÕES SOBRE O LIVRO:
Onde comprar o livro: Mandar mensagem no email: isabelladeandrade@gmail.com
ou na loja da Editora: http://editorapatua.
Sobre a autora:
"vivemos querendo preenchê-los. O fazemos porque dói. Qualquer sinal de vazio, dói que é uma coisa. Mas existe, sim, coisa mais dolorida que os vazios que fazem morada nos buracos dentro de nós: a tentativa desesperada de preencher esses vazios; vãs tentativas, tentativas naufragadas de preenchimento. Impulso humano é esse de caminhar em busca da plenitude, mesmo que não se saiba que plenitude é essa, afinal. Caminha-se em busca do que nem se sabe, de um caminho certo, caminho verdadeiro, veracidade, voracidade." Muito reflexivo. Despertou a minha curiosidade em ler, gosto de livros assim, que nos fazem refletir, perante as coisas da vida.
ResponderExcluirOi Ane.
ResponderExcluirAchei bem interessante o livro e uma grande surpresa, pois não conhecia.Pela sua resenha a escrita de Isabella parecer ser reflexiva e cheia de doçura. Despertou minha curiosidade e vou adicionar na minha lista de desejados.
Bjos
Desde que vi a capa desse livro, muito me interessei, achei linda e gosto das obras da Patuá, achei muito bacana você trazer o trabalho da autora para o blog, diferenciando substancialmente de outros que apenas mostram livros comerciais e de entretenimento. fico feliz por conhecer e apreciar seu blog. 'Qualquer sinal de vazio, dói que é uma coisa. ' concordo e nossa sociedade doente lida com remédios, ao invés de enfrentar seus problemas existenciais, remédios não preenche vazios.
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