Título: Tartarugas até lá embaixo
Autor: John Green
Editora: Intrínseca
Ano de publicação: 2017
Páginas: 256

Nota: 4/5


John Green é protagonista de um dos maiores fenômenos literários recentes: sua obra encontra cada vez mais espaço entre jovens e adultos que procuram por livros relevantes e que conversem com suas dores e questões íntimas. Autor do best-seller A culpa é das estrelas e outros três grandes sucessos editoriais, Green finalmente voltou à ativa com o seu mais novo livro, intitulado Tartarugas até lá embaixo. Título curioso, né? Mais curiosa ainda é a temática da obra: o transtorno obsessivo compulsivo (TOC). 

(Aqui eu preciso fazer uma pausa e dizer que, quando descobri o tema do livro, fiquei bastante animado. Sou portador de TOC desde os 7 anos de idade e sempre me entristeci ao ver como o transtorno quase sempre é abordado na mídia, de forma superficial e rasa, prestando um desserviço para quem luta por reconhecimento e melhores condições de vida para quem sofre com esse distúrbio ou qualquer outra desordem mental.)

A trama é narrada em primeira pessoa por Aza Holmes, uma adolescente de 16 anos que enfrenta problemas com o TOC desde quando se entende por gente. As suas obsessões são, em sua maioria, relacionadas ao medo de contrair bactérias e doenças virais que podem levar à morte. O seu círculo de convivência se resume a sua mãe e sua amiga Daisy, e é esta segunda que inicia uma jornada que mudará para sempre a vida de Aza.

Daisy convence a amiga a se juntar a ela em uma investigação sobre o sumiço do dono das empresas Pickett, o maior conglomerado empresarial da cidade, a qual desapareceu recentemente após se tornar alvo de uma investigação sobre corrupção. A polícia está oferecendo uma recompensa de 100 mil dólares para quem der pistas sobre o paradeiro do empresário e Daisy crê que, pelo fato de Aza ter tido uma pseudo-amizade na infância com o filho do magnata, elas podem se reaproximar da família Pickett e investigarem o caso, afinal não é todo dia que surge uma oportunidade de faturar essa grana toda.

O problema é que Davis, filho do bilionário e alvo principal dos planos de Daisy e Aza, se mostra muito mais humano e profundo do que as duas amigas imaginaram, o que cria espaço para o desenvolvimento de uma relação de amizade (ou até algo mais) e a resposta para as questões internas desses três adolescentes.

Perpassando toda a história, as obsessões e compulsões de Aza exprimem o sofrimento de quem enfrenta o TOC no dia a dia,  considerado pela OMS um dos dez transtornos mais debilitantes. John Green permite que mergulhemos na mente de um obsessivo-compulsivo e vivamos a espiral, metáfora usada por Aza para descrever o sentimento de impotência gerado pelos sucessivos pensamentos intrusivos que obrigam o portador a realizar compulsões no intuito de aliviar a sua mente agitada.

No geral, é um livro muito bom e necessário para os dias em que vivemos, onde os transtornos psíquicos viraram epidemia e o número de pessoas diagnosticadas dobra diariamente. Eu fico extremamente feliz por ver que um autor relevante como o John Green tenha entrado nessa luta pela saúde mental e espero que esse livro ajude muitas pessoas a reconhecerem os seus problemas e encontrarem forças para se manterem lutando por mais qualidade de vida.

Em um mundo doente, se manter são é um trabalho árduo, mas quando somos compreensivos e honestos com a nossa própria história, a luta se torna menos debilitante e passamos a contar com uma ajuda importantíssima: a nossa própria.

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